Meus cabelos estavam caindo. O cabeleireiro explicou que é normal acontecer no outono e me vendeu um xampu antiqueda de nome francês, uma fortuna, prometendo que em um mês eu teria minha cabeleira de volta. Usei do outono até a primavera, mas o xampu, que descobri que de francês não tinha nada além do nome, não fez nenhum efeito: meus fios continuavam a entupir o ralo do chuveiro. Achei melhor consultar um médico.
Uma dermatologista me prescreveu uma solução capilar e me orientou a parar de usar o creme de testosterona. Mas meu ginecologista, que tinha prescrito a reposição hormonal —depois dos meus níveis de testosterona caírem na mesma proporção dos meus cabelos—, me proibiu descontinuar o tratamento.
Meu personal trainer veio com uma solução salomônica: testosterona dia sim, dia não, desde que eu suplementasse com whey, creatina, glutamina, caseína e aminoácidos para não perder massa muscular.
Quando contei isso a minha nutricionista, ela quase me trucidou. Mandou comer muita proteína. Como não como carne, me abasteci de ovos. Mas começaram as coceiras. Meu alergista descobriu que tenho alergia à clara de ovo. Apelei para as castanhas de caju. Como sou compulsiva, aumentei 3 kg na balança.
A endocrinologista me prescreveu uma injeçãozinha antes que eu viciasse em oleaginosas. Mas era tarde.
Minha psicóloga propôs uma terapia de regressão para identificar a origem da compulsão. Isso duraria alguns anos e, pelos meus cálculos, eu estaria com 20 kg a mais. O psiquiatra falou para eu parar de mimimi e deu logo um remedinho, o que deixou meu homeopata irritadíssimo —que me recomendou retomar imediatamente os exercícios de "mindful eating".
Entre uma peteca e outra, sigo aqui com o meu cabelo ralo, comendo castanhas, repondo testosterona, tomando tarja preta, whey e suplementos e tentando uma solução consciente: consciente de que meu caso não tem solução.
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