terça-feira, 30 de maio de 2023

Paciente com câncer há 13 anos tem remissão completa em SP em um mês após terapia celular em estudo na rede pública, FSP

 Por Carlos Henrique Dias, g1 SP — São Paulo

 


Exames mostram antes e depois de câncer de paciente; à direita, imagem mostra remissão da doença — Foto: Arquivo pessoal

Exames mostram antes e depois de câncer de paciente; à direita, imagem mostra remissão da doença — Foto: Arquivo pessoal

Um protocolo adotado pela Universidade de São Paulo (USP), em parceria com o Instituto Butantan e o Hemocentro de Ribeirão Preto, está trazendo para a rede pública de saúde uma técnica considerada revolucionária no combate ao câncer, utilizada em poucos países.

Até agora, 14 pacientes foram tratados com o CAR-T Cell com verbas da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Todos os pacientes tratados tiveram remissão de ao menos 60% dos tumores. A recuperação foi no Sistema Único de Saúde (SUS).

Um deles é Paulo Peregrino, de 61 anos, que lutava contra o câncer havia 13 anos e estava prestes a receber cuidados paliativos quando foi submetido ao tratamento em abril e, em apenas um mês, teve remissão completa do seu linfoma.

No segundo semestre, 75 pacientes devem ser tratados com o CAR-T Cell com verba pública após autorização da Anvisa para o estudo clínico. Atualmente, o tratamento só existe na rede privada brasileira, ao custo de ao menos R$ 2 milhões por pessoa.

método tem como alvo três tipos de cânceres: leucemia linfoblástica B, linfoma não Hodgkin de células B e mieloma múltiplo, que atinge a medula óssea. O tratamento contra mieloma múltiplo ainda não está disponível no país. 

"Devido ao alto custo, este tratamento não é acessível em grande parte dos países do mundo. O Brasil, por outro lado, encontra-se em uma posição privilegiada e tem a rara oportunidade de introduzir este tratamento no SUS em curto período de tempo", diz Dimas Covas, coordenador do Centro de Terapia Celular CEPID-USP e do Núcleo de Terapia Celular do Hemocentro de Ribeirão Preto, que desenvolveu a versão brasileira dessa tecnologia.

Saiba o que é a terapia celular contra o câncer aplicada em estudo na rede pública
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Saiba o que é a terapia celular contra o câncer aplicada em estudo na rede pública

Remissão completa em curto período

Paulo é o caso mais recente de remissão completa em curto período de tempo do grupo de estudos com os 14 pacientes do Centro de Terapia Celular.

Ele teve alta no domingo (28) depois de ficar sob cuidados médicos no Hospital das Clínicas da cidade de São Paulo.

Vanderson Rocha, professor de hematologia, hemoterapia e terapia celular da Faculdade de Medicina da USP e coordenador nacional de terapia celular da rede D’Or, está à frente do caso de Paulo.

“Foi uma resposta muito rápida e com tanto tumor. Fico até emocionado [ao ver as duas ressonâncias de Paulo]. Fiquei muito surpreso de ver a resposta, porque a gente tem que esperar pelo menos um mês depois da infusão da célula. Quando a gente viu, todo mundo vibrou. Coloquei no grupo de professores titulares da USP e todo mundo impressionado de ver a resposta que ele teve”, comemorou o especialista.

Paciente com câncer há 13 anos tem remissão completa em SP em um mês após terapia celular em estudo na rede pública
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Paciente com câncer há 13 anos tem remissão completa em SP em um mês após terapia celular em estudo na rede pública

Antes e depois

As duas imagens do Pet Scan (tomografia feita com um contraste especial ) (veja acima) representam “dois Paulos”: a da esquerda, o paciente que tinha como caminho único os cuidados paliativos, quando a alternativa é dar conforto, mas já sem expectativa de cura, e a da direita, um paciente com um organismo já sem tumores após o tratamento com CAR-T Cell.

Atualmente, o procedimento no Centro de Terapia Celular é feito de forma compassiva, quando o estudo aceita o paciente em estágio avançado da doença, e os médicos conseguem com a Anvisa a autorização para a aplicação do método.

Médico Vanderson Rocha (à esq.) e Paulo Peregrino (à dir.) — Foto: Arquivo pessoal

Médico Vanderson Rocha (à esq.) e Paulo Peregrino (à dir.) — Foto: Arquivo pessoal

Quando o médico teve contato com Paulo, o publicitário já havia passado por procedimentos cirúrgicos, dezenas de exames e quimioterapia.

“A vitória não é só minha. É da fé, da ciência e da energia positiva das pessoas. Cada uma delas ajudou a colocar um paralelepípedo nesse caminho. A imagem prova com muita clareza para qualquer pessoa a gravidade do meu linfoma, e eu não tinha ideia de que era assim”, contou o paciente.

Médico e paciente em tratamento em São Paulo — Foto: Arquivo pessoal

Médico e paciente em tratamento em São Paulo — Foto: Arquivo pessoal

13 anos 'tocando em frente'

Uma linha do tempo ajuda a nortear as idas e vindas dos tumores de Paulo. A trajetória será contada em uma autobiografia ainda em produção intitulada "A Vida pelo Copo D'água", em que ele cita seu remédio: "fé e ciência para viver a metade cheia da vida".


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