"Obrigado por seu serviço." Ultimamente, é isso o que um americano deve dizer aos militares uniformizados. Eles embarcam nos aviões antes dos outros.
Espero que esse costume não se espalhe para o Brasil. Vocês já têm problemas suficientes com seus militares, inúteis para qualquer coisa além de dar uma boa carreira a caras durões e ocasionalmente intervir na política. Mas, em seu país, e no meu, um grande exército e "obrigado por seu serviço" é um sinal de uma sociedade militarizada.
É também um sinal de um erro econômico profundo.
O arcebispo de Canterbury, no sermão da cerimônia em que coroou Charles 3° como rei do Reino Unido, chamou seu rebanho ao "serviço". Ele listou os serviços apenas como trabalho não remunerado, como alimentar pessoas pobres ou servir na igreja.
O que ele não percebeu, insultando inconscientemente a maioria dos trabalhadores do mundo na enorme audiência da televisão, é todo o serviço que prestamos uns aos outros também quando somos pagos por ele.
Você serve quando vende seu trabalho ou vende um produto ou, claro, vende serviço pessoal. Sim, você tem um lucro. Mas a mesma coisa faz o seu empregador ou o seu cliente, em dinheiro ou em satisfação, caso contrário eles não teriam aceitado o negócio, em primeiro lugar.
Os economistas chamam isso de "superávit" do produtor ou do consumidor, que reverte tanto para o fornecedor quanto para o demandante. Também é chamado de "ganho com o comércio". O economista argentino Martin Krause zomba da autossuficiência ao observar quanto custaria a uma pessoa fabricar o seu próprio automóvel.
Quando os alunos me dizem o que querem fazer na vida, costumam dizer que querem trabalhar no setor sem fins lucrativos. A ideia deles é que o verdadeiro serviço aos outros é apenas sem dinheiro. É verdade que dentro de um pequeno grupo de familiares ou amigos nenhum dinheiro muda de mãos. Observei num artigo anterior que o dinheiro é necessário apenas em negócios entre estranhos, fora do amor ou da lealdade.
Todo mundo está servindo a todos numa sociedade comercial. É o sistema mais altruísta concebível.
Robinson Crusoé, a princípio, serviu apenas a si mesmo. Mas, assim que chegou Sexta-Feira, Crusoé o serviu transmitindo seu conhecimento sobre criação de animais. Sexta-Feira serviu a Crusoé reunindo as cabras dispersas. Em uma grande sociedade, eles fariam isso por pagamento. O resultado é o mesmo.
Em outras palavras, você deve agradecer a todos por seu serviço.
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