quinta-feira, 25 de maio de 2023

Indústria pede gás mas barato já, enquanto choque de oferta não vem, gas week

 

PIPELINE Indústrias pedem mudança na política de preços do gás da Petrobras. No embalo, custos das transportadoras também começam a ser questionados.

ANP avança para incluir gas release na agenda regulatória. MDC/Marquise querem levar biometano para indústrias de Manaus e mais. Confira:
Editada por André Ramalho
andre.ramalho@epbr.com.br
EU QUERO É PREÇO! Enquanto o governo acena para um (futuro) choque de oferta, indústrias cobram soluções para baratear o gás a curto prazo. O setor produtivo volta à carga contra a Petrobras, agente dominante que pratica, hoje, preços acima da média da concorrência.

O debate, aliás, começa a respingar também sobre os custos do transporte.

No embalo da nova política de preços do diesel e gasolina, que pôs fim ao alinhamento da Petrobras ao preço de paridade de importação (PPI), o Fórum do Gás e União Pela Energia (representantes de um grupo de associações empresariais, predominante industriais) enviaram carta conjunta ao Ministério de Minas e Energia e à Petrobras.

Entendem que os preços da estatal não refletem mais a dinâmica do mercado atual -- e pedem, claro, um gás mais barato.

E não estão sozinhos: as distribuidoras, que judicializaram os contratos com a Petrobras, em 2022, também apoiam a revisão da precificação da molécula -- já sinalizada pela própria estatal. Em paralelo, as indústrias de química e fertilizantes se mobilizam para garantir um gás mais competitivo no Gás para Empregar. O governo já sinalizou que o uso do gás como matéria-prima nesses dois segmentos será priorizado.

Quem tem gás tem pressa. A Unigel, principal consumidora no mercado livre, hoje, cobra, no entanto, uma solução imediata para os preços, sob o risco de interromper as operações de suas fábricas de fertilizantes.

E, afinal, qual será o preço do gás a ser vendido pela PPSA no Gás para Empregar? O MME dá as primeiras sinalizações dos custos para trazer o gás da União para a costa. Confira:
PREÇO DO GÁS 'ABRASILEIRADO' O Fórum do Gás e o União Pela Energia criticam a atual fórmula de preços da Petrobras e pedem que a companhia adote uma referência mais coerente com as características do mercado local.

Relembre: Em sua maior parte, os contratos da Petrobras seguem uma fórmula atrelada à variação do Brent e taxa de câmbio. Nos novos contratos, assinados no fim de 2021, no entanto, a petroleira embutiu nos preços o aumento dos custos com importação do GNL durante a crise hídrica.

A petroleira elevou, então, o percentual do Brent ao qual o preço do gás está indexado – de 12% para 16,75% em 2022. Este ano, o índice caiu para 14,4%, como previsto em contrato. A Petrobras alega que a maior parte do volume contratado está sujeito a percentuais mais baixos, de contratos mais antigos.

As indústrias alegam que a importação de GNL no Brasil ocorre pela flexibilidade das termelétricas e que o custo do setor elétrico "transbordou seus impactos" para o mercado não-termelétrico.

A própria Petrobras, sob o comando de Jean Paul Prates, já sinalizou a intenção de buscar uma nova fórmula de preços para o gás natural, de forma a dar mais peso aos custos domésticos de produção da molécula.

Procurada, a petroleira não se manifestou até o fechamento da edição sobre o assunto.

QUER PAGAR QUANTO? O diretor de gás da Abrace (grandes consumidores), Adrianno Lorenzon, afirma que mais importante do que rever os indexadores da Petrobras, em si, é garantir, na prática, uma redução de preços: “O indexador é uma questão marginal nessa discussão”.

O preço da Petrobras, no city-gate, caiu em maio para entre US$ 9,75 e US$ 12 o milhão de BTU, dependendo do contrato.

Mas qual o preço justo? Para o superintendente da Abividro (indústria de vidros), Lucien Belmonte, falta, historicamente, transparência na formação dos preços do gás da Petrobras – o que dificulta o próprio debate sobre qual seria o preço justo da molécula.

“Sabemos que é abusivo [com base no preço histórico que a Petrobras pagava aos demais produtores, na cabeça do poço]. Adoraria ter um preço padrão Henry Hub [dos EUA], mas sabemos que é irreal. Mas qual é o preço real? Só quando tivermos as devidas transparências no processo vamos saber. Qual é o preço interno de transferência entre a área de exploração e produção e de comercialização de gás da Petrobras? Não sabemos”, disse.

Nas conversas com fontes clientes industriais, um preço que frequentemente é citado como ideal para dar mais competitividade ao setor oscila entre US$ 7 e US$ 8 o milhão de BTU na ponta. Esse patamar destravaria a demanda reprimida por gás nas indústrias – cujo consumo patina há anos, fruto da “década perdida” da economia, nos anos 2010.

“Se conseguíssemos a competitividade do preço desse gás, dobraríamos o consumo da Gerdau no Brasil”, disse o gerente de Energia e Gás da Gerdau, Marcos Prudente, ao participar do Seminário de Gás Natural do IBP, este mês.

“Continuarmos vinculados a um mercado muito próximo ao custo do GNL, a 13%, 14% ou até 12% do Brent, de fato, não dá o sinal adequado para novos investimentos”, completou o diretor de Energia e Descarbonização Industrial da Braskem, Gustavo Cecchucci, na mesma ocasião.

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QUANTO CUSTARÁ O GÁS DA UNIÃO? O choque de oferta do gás da União, prometido pelo Gás para Empregar, ainda não tem data para chegar ao mercado. Por questões contratuais, é improvável que o swap do óleo da União por volumes adicionais de gás disponíveis para comercialização via PPSA ocorra antes de 2025.

Também não está claro ainda em que o patamar de preços que esse gás chegará ao mercado. O governo ainda estuda uma política de precificação de longo prazo para o gás da União.

Esta semana, porém, o MME deu as primeiras sinalizações dos custos para trazer esse gás até a costa.

O custo estimado para colocar a molécula da União no city-gate é de US$ 5,89 o milhão de BTU, a partir do uso da infraestrutura existente; e de US$ 6,71 o milhão de BTU, se necessária a construção de novos gasodutos de escoamento.

O ministério entende que seria possível vender o gás da União, no city-gate, entre US$ 7 e US$ 8 o milhão de BTU, com ganhos de arrecadação para o Fundo Social do Pré-Sal – o superávit da operação é uma preocupação de lideranças políticas da base do governo nas discussões do Gás para Empregar.

MUITO ALÉM DA MOLÉCULA Embora seja o item de maior peso no preço final do gás, a molécula não é o único componente com espaço para redução. Essa afirmativa tem marcado uma presença crescente nos discursos de consumidores de gás (mas não só deles).

A Unigel tem defendido mais flexibilidade nas negociações das tarifas de transporte e distribuição (ambas reguladas). Soluções como o short haul (tarifa diferenciada para o transporte de curta distância) estão no radar.

“Não adianta ter um transporte muito barato e uma molécula muito cara, não adianta ter uma molécula muito barata e um transporte caro. Precisamos de competitividade em toda a cadeia. Hoje, ele [o mercado] já nasce com dificuldade na molécula e sofre o ônus do transporte caro”, disse o diretor de Compras da Unigel, Luiz Antônio Nitschke, no Seminário de Gás Natural.

Se o Brasil não buscar reduzir os custos da infraestrutura, o preço do gás não ganhará a competitividade que se espera, avalia o diretor Comercial da PetroReconcavo, João Vitor Moreira.

“Se o Brasil não olhar para frente, para a necessidade de racionalizar esses custos também, o gás na ponta não vai evoluir”, comentou.

Ele acredita que as tarifas de transporte dos contratos legados – aqueles assinados com a Petrobras antes da privatização das transportadoras e que foram herdados pelos novos operadores do setor – cairão, à medida que esses contratos forem vencendo a partir de 2025.

Enquanto isso não acontece, defende Moreira, há espaço para se buscar reduções nos custos do transporte.

“Francamente, não vejo, na prática, o valor da tarifa para o gás adicional [aos contratos legados] mais barato que o valor dos contratos legados. Não é o que vemos na realidade”, disse.

Ele acredita que a revisão da Resolução ANP nº 15/2014, prevista na agenda regulatória da agência, é uma oportunidade ideal para tratar do assunto.

“[Renegociar os contratos legados] não seria simples. O melhor caminho é aprimorar a forma como são feitas as revisões tarifárias, há muito espaço para melhoria”, complementou Lorenzon, da Abrace.

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