Há poucos dias escrevi um artigo em jornal carioca reclamando do caos urbano da minha cidade. Nunca vi tanta repercussão. Me senti pop, quase uma influencer. Pegou na alma dos moradores do Rio de Janeiro exaustos de tanta bandalheira. Bicicletas na contramão, motos nas calçadas, sinais desrespeitados e, sempre, o pisca-alerta substituindo a função do talão azul. Para a maioria, as marcas amarelas no asfalto devem ser coisa de grafiteiro porque fechar cruzamento é o normal.
Não se trata “apenas” de incivilidade, a impunidade nos empurrou até aqui. Ouvi no rádio que os baloeiros precisam pedir licença ao tráfico e à milícia para soltar balões, prática perigosa e proibida. Normal por aqui criminoso pedir licença para bandido para cometer crime. Na guerra cotidiana, balas perdidas matam, seja no confronto com policiais, seja entre briga de facções. Só neste ano foram 79 vítimas, sendo 26 casos fatais. A população parece estar anestesiada frente ao número de vítimas, que não para de crescer. Para quem pode, o jeito são vidros blindados, cercas e seguranças privados. Do outro lado da cidade, escolas são fechadas em dia de guerra; aulas, perdidas; crianças, traumatizadas; e seu futuro, comprometido. O fosso da desigualdade aumenta, e o ciclo vicioso se perpetua.
Mas por que tratar desses assuntos aqui? Porque tem tudo a ver com o fracasso das concessionárias de serviço público no Estado do Rio de Janeiro.
Light, Super Via, Barcas, Galeão, Linha Amarela e BR 040 enfrentam dificuldades. Não importa se a titularidade é federal, estadual ou municipal. Algumas estão até sendo devolvidas.
A estrada que liga a capital a Petrópolis, e de lá para Minas Gerais, está abandonada. Uma estrada privatizada que deu errado deve ser algo estranho para um paulista entender, mas aconteceu aqui.
O ditado “o exemplo vem de cima” explica muito; foram cinco governadores presos. Não é para qualquer um. Tivemos até um prefeito que, além de destruir as finanças do município, passou tratores por cima de cabines de pedágio da Linha Amarela.
Light e Enel perdem R$ 1,2 bilhão por ano com furto de energia, em áreas conflagradas. Boa parte disso é custeada pelas empresas, mas os demais consumidores pagam nas tarifas. O Rio tem gatonet, roubo de energia e de fios de cobre, surfistas de trem, e por aí vai. As concessões de serviços essenciais não contam com segurança pública na proteção de seus trabalhadores e do seu patrimônio. E com isso perdemos todos nós, usuários.
O Rio de Janeiro vai sobrevivendo porque é bonito por natureza, mas até quando?
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