domingo, 28 de maio de 2023

Marcos de Vasconcellos - O papelão e o tardio fim da eleição, FSP

 As eleições parecem ter finalmente chegado ao fim, aos olhos do mercado. Com praticamente seis meses de atraso, investidores e empresários conseguem enxergar com alguma clareza a política econômica do terceiro mandato de Lula (PT). O Arcabouço Fiscal foi aprovado na Câmara e o ritmo da inflação acalmou-se.

Com isso, empresas e consumidores começam a voltar aos trilhos. Isso não quer dizer otimismo com o governo, mas um pouco mais de certezas no mar de insegurança tradicional do Brasil. E essas perspectivas mexem nos preços —das coisas na economia real e das ações na Bolsa.

Para entender as perspectivas do "mundo das coisas", há um indicador que aparece pouco nas notícias, mas que acho muito significativo: o IBPO, sigla para Índice Brasileiro de Papelão Ondulado. Sim, como o nome diz, ele mede a expedição de caixas, acessórios e chapas de papelão.

Bobinas de papel na fábrica da Klabin em Monte Alegre, Paraná
Bobinas de papel na fábrica da Klabin em Monte Alegre, Paraná - Divulgação Klabin

Não há máquina de lavar nem computador que saia da fábrica sem sua embalagem de papelão ondulado. E, como esse tipo de papelão ocupa muito espaço para estocar, só é produzido quando há demanda quase garantida. Por isso, sua produção é um bom apoio para tentar enxergar o futuro.

Pois bem! O total de toneladas de papelão expedidas neste ano, de janeiro a abril, passou o volume do mesmo período do ano passado. Comparando os últimos cinco anos, aliás, a produção de papelão ondulado deste ano só perde para 2021 —quando ensaiamos aquela primeira retomada econômica da pandemia.

Os números do papelão concordam bastante com o levantamento feito com as indústrias de São Paulo, chamado Sensor, da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo). O último dado, de maio, aponta expansão no mercado, nas vendas, no emprego e nos investimentos. Isso não acontecia desde agosto do ano passado.

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Os dados mostram uma indústria tomando fôlego para retomar o passo. No próximo dia 29, será divulgado o relatório de confiança da Indústria da FGV, atualizado com dados de maio. No de abril, vale dizer, o Nível de Utilização da Capacidade Instalada da Indústria teve seu maior avanço desde setembro de 2020, atingindo 80,7%.

A indústria, assim como os analistas do mercado, enxerga a aproximação de uma possível redução das taxas juros e, com isso, começa a se posicionar para um movimento de mais investimentos e produção.

No último relatório Focus, divulgado pelo banco central no dia 22, os especialistas do mercado preveem que chegaremos ao fim do ano com uma inflação (IPCA) de 5,80%, uma redução considerável em relação à previsão feita quatro semanas antes 6,04%. Já em relação à taxa básica de juros (Selic), a previsão para queda (dos atuais 13,75% ao ano para 12,50% a.a.) já é quase dada como certa pelos mesmos analistas.

Enxergar esse reposicionamento dos jogadores em campo é imprescindível para quem quer fazer suas apostas no jogo daqui para frente.

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