BRASÍLIA – Em prolongada crise de identidade, o PSDB sofreu mais uma baixa. Trinta e oito dias depois de ter divulgado uma carta aberta dizendo que o centro democrático vinha sofrendo “grave esvaziamento” desde 2018, o ex-deputado federal Marcus Pestana (MG), um dos fundadores do partido, deixou a legenda. Pestana foi convidado pelo presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), para assumir o cargo de diretor-executivo da Instituição Fiscal Independente (IFI).
A resolução do Senado que criou a IFI, em 2016, proíbe o exercício de outra atividade profissional ou filiação político-partidária. Em ofício enviado ao governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, que é presidente nacional do PSDB, Pestana comunicou sua decisão de sair, após 35 anos de filiação. A escolha para o comando da IFI ainda precisa passar por uma sabatina do indicado no Senado.
Conhecido como um dos formuladores do partido, Pestana havia proposto, no mês passado, que o PSDB e o Cidadania – legendas já unidas em federação – não apenas compusessem um bloco com o PSB, o PDT e o Solidariedade como caminhassem a passos largos para uma fusão. A ideia incomodou a ala majoritária do PSDB, que defende o casamento de papel passado com o MDB e o Podemos.
“Mas eu não saí por causa disso”, disse ao Estadão o ex-deputado, que foi secretário-geral do PSDB quando Geraldo Alckmin, então governador de São Paulo e hoje vice-presidente, comandava o partido.
Debandada
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Alckmin deixou o PSDB em dezembro de 2021, na esteira de uma crise interna, após 33 anos na legenda, e migrou para o PSB. Dez meses depois, em outubro de 2022, o ex-governador João Doria também saiu do PSDB. Desafeto de Alckmin, Doria foi pressionado a retirar sua candidatura à Presidência, no ano passado, quando os tucanos decidiram apoiar Simone Tebet (MDB), hoje ministra do Planejamento.
“Decidi sair do PSDB porque recebi convite para uma função técnica e a resolução do Senado exige esse desligamento”, afirmou Pestana. “Porém, eu também sairia se o partido, que era de centro-esquerda, caminhasse de vez para a direita. O PSDB não sobreviverá com essa falta de nitidez, de presença e de excesso de ambiguidade”, emendou. Para ele, a “bola” tucana está agora nas mãos de Eduardo Leite e da governadora de Pernambuco, Raquel Lira, que representam a nova geração.
Como mostrou a Coluna do Estadão, a cúpula do PSDB calcula que perderá metade dos prefeitos de cidades paulistas, em 2024, se não conseguir estancar a debandada. O partido chegou a ter 245 prefeitos no Estado de São Paulo, mas 30 já se desfiliaram.
Assédio
Aliado do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) – que tanto pode concorrer à reeleição como disputar o Palácio do Planalto, em 2026 – já começou a atrair muitos prefeitos para o seu grupo político. O PSD de Gilberto Kassab, que ocupa a Secretaria de Governo e tem o vice-governador, Felício Ramuth, também vem assediando tucanos.
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No ano passado, Pestana e o deputado Aécio Neves (PSDB-MG) foram vencidos ao defender uma candidatura própria do PSDB ao Planalto. “Em 2022, poderíamos ter tido Doria ou Eduardo Leite como candidatos, mas o partido renunciou ao protagonismo quando definiu o apoio a Simone”, argumentou o ex-deputado, que concorreu ao governo de Minas. “Para time que não entra em campo a torcida não desfralda a bandeira.”
A maior derrota do PSDB, porém, foi na disputa pela sucessão no Bandeirantes. Depois de 28 anos ininterruptos no comando do governo de São Paulo, o partido perdeu a “joia da coroa” para Tarcísio, um carioca que estreou nas urnas naquela eleição e instalou um polo bolsonarista no Estado.
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