O campo deverá injetar R$ 1,25 trilhão neste ano na economia brasileira com as atividades dentro da porteira. As lavouras, com a supersafra, mostrarão crescimento de 8,9% no volume financeiro, que poderá atingir R$ 888 bilhões.
Já a pecuária, devido à queda nos preços dos bovinos, terá o terceiro ano consecutivo de perda de receitas. O resultado financeiro dentro da porteira será de R$ 362 bilhões nesse setor, 3,4% a menos do que em 2022.
Os dados são do Ministério da Agricultura, que acompanha volume e preços obtidos pelos produtores. Apesar de atingir um patamar recorde, as receitas de 2023 previstas neste mês ainda são inferiores às que haviam sido projetadas em fevereiro.
A Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) reajustou para baixo a produção de alguns itens importantes para a safra deste ano. Um deles foi a soja, cuja produção, em vista da seca no Rio Grande do Sul, foi revisada para 151,4 milhões de toneladas. A estimativa anterior era de 152,9 milhões.
Com isso, o ministério reavaliou para baixo a previsão de receitas dos produtores da oleaginosa para R$ 387 bilhões, inferior aos R$ 401 bilhões previstos no mês passado. Mesmo assim, o movimento financeiro dos sojicultores com as vendas deste ano vai superar em 14% o de 2022.
Os preços atuais da soja estão menores do que os de há um ano, mas o volume produzido compensa essa queda.
José Garcia Gasques, responsável pelos dados apurados pelo ministério, afirma que dois pontos são importantes para o VBP (Valor Bruto de Produção) deste ano. Um deles são os preços, que, apesar da redução em alguns casos, ainda se mantêm acima da média histórica.
O representante do ministério destaca, ainda, o aumento da produtividade média, próximo de 10% neste ano, o que, mesmo quando há redução de área, garante boa produção.
Redução de áreas de plantio e secas têm promovido importantes alterações no ranking do VBP. Entre os estados, Mato Grosso segue líder, seguido de Paraná e de São Paulo. Rio Grande do Sul, em vista dos contínuos efeitos climáticos adversos na região, perdeu força e está em quinto lugar no ranking nacional.
Os gaúchos perderam terreno em lavouras importantes, como as de soja, milho e arroz. Soja e milho continuam na preferência dos produtores do estado, mas o clima não tem cooperado com a produção.
Já o arroz perde espaço para outras culturas. Se confirmados os dados previstos para este ano, a produção do cereal será a menor dos últimos 25 anos no Brasil. O estado é o principal produtor nacional.
Produção menor e preços estáveis em R$ 85 por saca fizeram o arroz perder lugar no ranking de importância nacional, obtendo receitas inferiores até às da mandioca.
A produção agrícola brasileira se deslocou rapidamente para o Centro-Oeste, cuja região deverá acumular R$ 387 bilhões em receitas neste ano. A seguir vêm a região Sul, com R$ 331 bilhões, e a Sudeste, com R$ 298 bilhões.
O país continua dependente de poucos produtos. As receitas com soja e milho representam 62% de todas as obtidas com os 17 produtos analisados pelo ministério no setor de lavouras. Se acrescida a cana-de-açúcar, a participação dos três sobe para 73%.
Na pecuária, bovinos e frangos superam 68% da receita total do setor. A retração nesses dois segmentos afeta todo o setor neste ano.
As estimativas de receitas das lavouras estão baseadas em uma safra recorde de 310 milhões de toneladas. Esse volume, no entanto, ainda poderá sofrer grandes alterações, principalmente devido a efeitos climáticos.
Em alguns casos, como o do trigo, a Conab ainda considera os números de 2022 para o cálculo atual. O volume deste ano, porém, não deverá atingir o recorde do ano passado. O IBGE, que já tem previsão para o trigo, estima redução de 14% na safra deste ano, em relação a 2022.
Os preços internos dos produtos agropecuários estão com pressão de alta menor neste ano. O cenário internacional, no entanto, ainda traz muitas incertezas.
Rússia e Ucrânia terão de renovar o acordo de exportação de grãos nos próximos dias. Sem a renovação, as dificuldades de abastecimento mundial se acentuam, mexendo com os preços.
A definição dos preços internos, que servem de base para a formação do VBP, depende também da dos externos.
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