quarta-feira, 1 de setembro de 2021

Hélio Schwartsman - Vendo o Afeganistão, dá para confiar nos EUA?. FSP

 

Não dá para dourar a pílula. Os EUA deixam o Afeganistão de forma humilhante. De que modo isso afeta o papel dos EUA como supostos fiadores de uma ordem mundial que valoriza a democracia e os direitos humanos?

Devemos começar reconhecendo que não é fácil ser a única superpotência do planeta. Se os EUA foram com razão criticados pela opinião pública mundial pela desastrosa intervenção no Iraque, não é menos verdade que, em outras ocasiões, foram conclamados por essa mesma opinião pública a guerrear por motivos humanitários, como ocorreu na antiga Iugoslávia.

O Afeganistão fica no meio do caminho. Penso que a intervenção inicial em 2001 não se justificava. É verdade que o Talibã dava abrigo a Osama bin Laden, mas nada indica que o grupo tenha participado do planejamento do 11 de Setembro. Se o objetivo era capturar e punir o líder da Al Qaeda, fazia muito mais sentido despachar comandos de forças especiais do que iniciar uma guerra do outro lado do mundo.

Foram os comandos, aliás, que acabaram encontrando e matando Bin Laden, uma década depois. É claro que, tendo a Casa Branca decidido que os EUA não poderiam deixar de movimentar sua máquina militar após os ataques terroristas, não foi difícil encontrar justificativas morais para fazê-lo. As violações sistemáticas do Talibã aos direitos humanos, em particular os de mulheres, eram reais.

O balanço dos 20 anos de intervenção, porém, não é favorável aos EUA. Eles deixam o Afeganistão nas mãos do mesmo grupo que derrubaram. No caminho, gastaram trilhões de dólares para tentar construir um Estado funcional, que ruiu sem esboçar muita resistência. Até diria que Washington cumpriu suas obrigações em relação ao país Afeganistão, mas não em relação aos milhares de afegãos que acreditaram nas promessas dos americanos e agora podem ser punidos pelo Talibã por terem colaborado. Esses foram inapelavelmente traídos pelos EUA.


Nenhum comentário: