domingo, 5 de setembro de 2021

Hélio Schwartsman - Por que é difícil combater o aquecimento global, FSP

 

O título do mais recente livro de Vaclav Smil, “Numbers Don’t Lie” (números não mentem), é enganoso. É quase tão fácil mentir com números como com palavras. Mas o autor se esforça em utilizar números apenas para iluminar fatos e apontar tendências que nos aproximam de verdades —e é bem-sucedido nessa tarefa.

“Numbers...” é uma coleção de 71 microensaios que tratam de quase tudo, da demografia à inovação, passando por crise climática e dietas. Smil, muitas vezes descrito como o guru de Bill Gates, é um mestre em destrinchar números e transformá-los em boas histórias.

Ele nos oferece desde curiosidades sem maiores consequências —quantas pessoas foram necessárias para construir a grande pirâmide de Quéops?— até verdades que estão na nossa cara, mas alguns insistem em não vê-las —vacinas são o melhor investimento público que existe, propiciando um retorno de US$ 16 para cada dólar aplicado.

Embora o autor atire para muitos lados, alguns conjuntos de ensaios transmitem uma mensagem mais sólida. É o caso dos artigos sobre o uso de energia. Sem negar a realidade do aquecimento global nem a necessidade de combatê-lo, Smil mostra por que a tarefa é difícil.

Nós nos concentramos, com razão, em desenvolver tecnologias limpas para transportes e a geração de eletricidade porque elas são as mais viáveis. Mas, se quisermos que o mundo inteiro experimente os mesmos níveis de conforto dos países ricos, precisaremos encontrar fórmulas para produzir enormes quantidades de amônia (fertilizantes), aço, cimento e plásticos para os quais ainda não existem tecnologias descarbonizadas.

Para Smil, precisamos ampliar a eficiência do que já temos. Isolar melhor as casas, o que não envolve mais do que instalar melhores caixilhos, permitiria significativa economia com aquecedores e aparelhos de ar-condicionado. Na mesma linha, ele monta um bom caso contra o desperdício de alimentos.


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