Já foi notado, mas não devidamente estudado, o estranho fenômeno segundo o qual presidentes do Brasil, quando em viagem ao exterior, despem-se de toda responsabilidade. Confrontados lá fora com a realidade do país, admitem que é preciso haver mudanças. Mas falam como se não tivessem nada a ver com o peixe. Fernando Henrique foi um exemplo notável desse comportamento, e Lula não lhe ficou atrás. Bolsonaro não conta: o planeta inteiro sabe que ele é o maior culpado pela nossa desgraça atual, da qual é orgulhoso divulgador.
Cláudio Castro, governador em exercício (e põe exercício nisso, pois ocupa o cargo desde agosto), adaptou a ocorrência no estrangeiro para uso doméstico. Nada do que acontece no Rio é com ele, nada lhe diz respeito, faz de tudo para passar despercebido. Se pudesse vivia a cantar --sua grande paixão-- em cultos de igreja e rodas de pagode.
Quando Castro bancou às escondidas sua festa de aniversário numa mansão em Petrópolis, com gente saindo pelo ladrão e não usando máscara, em total desrespeito às medidas sanitárias que ele próprio decretou, saiu-se com esta desculpa de adolescente pego em flagrante: "Alguns amigos acabaram aparecendo".
Curioso é que, sob o governo do interino, sem que ele tenha mexido um dedo, gesta-se o que é considerado o maior projeto de infraestrutura do país —a concessão dos serviços de água e esgoto no estado. Para atender 13 milhões de pessoas, a expectativa é um investimento de R$ 30 bilhões. Só falta combinar com os milicianos.
Por enquanto a Cedae se esforça a fazer da sua despedida um momento inesquecível: há mais de três meses fornece água batizada com geosmina; e, recentemente, com metais pesados. É como notou um amigo meu: toda manhã, ao abrir a torneira na hora de escovar os dentes, o carioca sente um cheiro de cocô e respira fundo, aliviado —felizmente não pegou Covid.
Nenhum comentário:
Postar um comentário