Os dados do IBGE divulgados nesta terça-feira (1º) confirmaram o forte impacto da pandemia sobre a atividade econômica brasileira no segundo trimestre deste ano. A retração recorde de 9,7% em relação ao primeiro trimestre é maior do que a queda acumulada registrada nas últimas nove recessões enfrentadas pelo país desde a década de 80. O cenário torna-se ainda mais desafiador pelo fato de ser a primeira vez que entramos em uma recessão antes de recuperar as perdas da anterior.
A forte queda do PIB no segundo trimestre foi resultado de contribuições negativas disseminadas entre os principais setores da economia, à exceção da agropecuária que exibiu ligeiro avanço.
Os destaques negativos entre os setores da economia concentram-se nas atividades mais afetadas pelas políticas de distanciamento social. Conforme destacado no Boletim Macro IBRE há vários meses, a categoria de outros serviços –que inclui os serviços de alojamento, alimentação, saúde e educação privada, entre outros –sentiu os efeitos da crise de forma muito intensa.
Da mesma maneira, os serviços da administração pública também despencaram diante do adiamento das aulas na rede pública de educação e da redução dos serviços na rede pública de saúde. Essas duas categorias juntas (outros serviços e serviços da administração pública) respondem por quase 50% dos serviços totais no PIB.
Ainda em relação aos serviços, outra categoria que sofreu os efeitos da menor circulação de pessoas foram os transportes, cuja retração chegou a quase 20% em relação ao primeiro trimestre. O comércio também registrou queda recorde no período, e o desempenho dessa atividade poderia ter sido ainda pior na ausência das políticas públicas de compensação de renda que mais do que compensaram a queda da renda do trabalho.
O setor industrial, por sua vez, retraiu mais de 12% em relação ao primeiro trimestre. A indústria de transformação reduziu a produção em resposta à menor demanda especialmente por bens de consumo duráveis e bens de capital. A construção civil, atividade intensiva em mão de obra, também reduziu as atividades durante o período de crise.
Pelo lado da demanda, o consumo das famílias desabou 12,5% na comparação com o trimestre anterior. Os dados do Monitor do PIB do FGV IBRE indicam que aproximadamente metade da queda é explicada pela redução do consumo de serviços e a outra metade, pelo menor consumo de bens duráveis e semiduráveis. Tudo indica que as políticas de transferência de renda tiveram papel fundamental na sustentação do consumo de bens. O consumo de serviços, por outro lado, ainda está longe de retomar o patamar pré-crise.
O desempenho desfavorável da construção civil e da produção de bens de capital puxou o investimento para baixo, que agora se encontra 37,3% abaixo do pico registrado em 2013. O elevado nível de incerteza, especialmente aquela relacionada ao quadro fiscal do país, limita a capacidade de recuperação futura do investimento, apesar do patamar historicamente baixo dos juros reais.
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