sábado, 1 de dezembro de 2018

Trégua financeira, opinião FSP


Em meio a um quadro de desaceleração da economia mundial e de incertezas financeiras e políticas em elevação, o presidente do Fed (o banco central dos Estados Unidos), Jerome Powell, indicou que o custo do dinheiro doravante pode subir de maneira mais lenta.
Com isso busca alguma trégua nos mercados financeiros, que amargaram fortes perdas recentes --devido ao temor de que a alta dos juros e a consequente valorização do dólar poderiam provocar turbulências mais graves.
Ao afirmar que a taxa do Fed, hoje em 2,25% anuais, já estaria próxima do nível considerado neutro (que não estimula nem contrai a atividade econômica), Powell deu a entender que apertos adicionais serão avaliados com cautela.
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A instituição está, mais uma vez, diante de escolhas difíceis. Se os juros demoram demais a subir, corre-se o risco de um superaquecimento do consumo e do mercado de trabalho, capaz de levar a inflação além dos almejados 2% ao ano.
Por outro lado, um endurecimento monetário muito rápido poderia jogar desnecessariamente os EUA e o mundo numa recessão. É este o temor que parece ter crescido nos últimos meses.
As projeções para a expansão do Produto Interno Bruto global em 2019 têm caído, em fenômeno que abarca todas as regiões.
Nos EUA, cessarão os efeitos dos cortes de impostos promovidos por Donald Trump, que fizeram o PIB americano crescer 3,3% ao ano, em média, nos primeiros nove meses deste 2018. No próximo ano, o ritmo tende a ser bem menor.
Na Europa e nos emergentes, o dinamismo tem ficado abaixo do esperado. Há incertezas que vão desde o conflito do governo italiano com a União Europeia em torno de seu Orçamento até a guerra comercial entre China e EUA.
A boa notícia é que o Fed pode se dar ao luxo de atuar com maior parcimônia nos próximos meses. A despeito da taxa de desemprego de apenas 3,7%, a menor em décadas, a inflação permanece baixa e não dá sinais de aceleração.
Calcula-se que, se a economia de fato crescer menos em 2019, mas sem recair numa recessão, os juros podem se estabilizar perto dos 3%.
Esse seria, em tese, um panorama benigno para o Brasil, que ganharia tempo adicional para promover reformas enquanto o panorama global se mantém amigável.
Como o IBGE mostrou nesta sexta (30), o PIB nacional ainda se encontra 5% abaixo do patamar anterior à recessão de 2014-16. Com retomada tão vagarosa e sem garantias do cenário externo, o próximo governo precisa ter pressa.

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