Governo de transição expõe presidente eleito e o obriga a dar mais satisfações
Divisões no núcleo duro do governo, mal-estar com o Congresso, apelo de governadores por dinheiro, ministros enrolados com o passado, outros questionados pelo currículo duvidoso, e o risco de colapso de relevante programa social.
Após três semanas de transição, o presidente eleito, Jair Bolsonaro, começa a se dar conta de que é muito mais fácil fazer campanha do que governar. No caso dele, uma campanha sem debates, com raras entrevistas e uma comunicação feita via rede social, escapando do contraditório.
A formação do novo governo inevitavelmente expõe Bolsonaro e o obriga a dar mais satisfações do que desejaria. Ele não disfarçou o incômodo em ter de responder sobre a segunda suspeita de caixa dois em torno do seu ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni. “100% (da minha confiança) ninguém tem, ok?”, afirmou aos repórteres em relação ao episódio divulgado pela Folha.
Onyx, aliás, tem sido alvo de críticas de parlamentares pela dificuldade de interlocução com o Congresso.
Chefe da economia, Paulo Guedes percebeu que o menosprezo ao Legislativo tem efeito nocivo para os interesses do Planalto. Não à toa, procurou o presidente do Senado, Eunício Oliveira, para aparar as arestas.
Chefe da economia, Paulo Guedes percebeu que o menosprezo ao Legislativo tem efeito nocivo para os interesses do Planalto. Não à toa, procurou o presidente do Senado, Eunício Oliveira, para aparar as arestas.
Panelas ficam evidentes na nova gestão. Há o grupo dos generais, a turma da relação política, a ala econômica e o clã familiar do presidente eleito. Cada patota tentando ocupar espaços, dar palpite e influenciar no jogo de xadrez bolsonarista.
O gesto da ditadura cubana de anunciar a saída do programa Mais Médicos jogou antes da hora no colo de Bolsonaro o desafio de provar que suas convicções ideológicas não comprometerão os mais necessitados. Ficará nas mãos do seu governo a vida de quem precisa de assistência médica nos rincões do país.
Nada dito aqui é novidade na política brasileira. FHC, Lula, Dilma Rousseff e Michel Temer enfrentaram, reservadas as circunstâncias, problemas parecidos. A diferença é que, no caso de Bolsonaro, o governo de fato ainda nem começou.
Leandro Colon
Diretor da Sucursal de Brasília, foi correspondente em Londres. Vencedor de dois prêmios Esso.
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