O Estado de S.Paulo
29 Novembro 2018 | 05h00
O relatório de 2017 das atividades da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) dá a dimensão exata da revolução que pode ocorrer quando as decisões governamentais em matéria de ensino e pesquisa são pensadas não em termos ideológicos ou eleiçoeiros, mas em nome do interesse público. Divulgado pela revista Pesquisa, o relatório informa que a agência investiu R$ 1,05 bilhão em 26 mil projetos de pesquisa científica e tecnológica no ano passado. Apesar de esse total ter ficado abaixo do que foi investido em 2016, a Fapesp conseguiu em 2017, sem comprometer o apoio às atividades tradicionais, como financiamento de bolsas de estudo, aumentar o apoio às novas propostas apresentadas pela comunidade científica.
Uma delas é a Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (Pipe), que foi criada para ampliar o grau de inovação das pequenas empresas, com a colaboração das universidades. Criado há 20 anos, o programa teve, em 2017, o maior número de auxílios de sua história. Foram 269 projetos, cerca de 18% a mais do que em 2016. Em suas duas décadas de existência, ele apoiou projetos em 1.244 pequenas empresas sediadas em 132 cidades paulistas, formando empreendedores capazes de criar negócios sustentáveis e competitivos.
Outra iniciativa, também baseada em parcerias entre universidades e empresas, foi a aprovação de dois Centros de Pesquisa em Engenharia, um envolvendo a Unicamp e a Embrapa, no campo de mudanças climáticas, e o outro envolvendo a USP, a Unicamp, o Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares e a Shell, no desenvolvimento de fontes renováveis de energia. Ao todo, a agência financia sete centros, que buscam inovações em áreas que vão de estudos sobre alvos moleculares contra doenças respiratórias a engenharia de manufatura avançada. Cada R$ 1 investido pela Fapesp envolve R$ 1 da empresa financiada e R$ 2 das universidades em que os centros estão localizados.
O relatório apresenta um balanço do sistema de ciência e tecnologia do Estado, integrado por 15 mil empresas inovadoras, 6 universidades públicas, 65 faculdades de tecnologia, 34 institutos públicos de pesquisa e 21 institutos privados. Esse sistema, para cujo desenvolvimento o papel da agência foi fundamental, responde por 30% das patentes depositadas no Instituto Nacional de Propriedade Intelectual.
Nas atividades classificadas como regulares, a Fapesp investiu R$ 429 milhões em 14 mil bolsas de iniciação científica, mestrado, doutorado e pós-doutorado. Desse total, 76% foram destinados a bolsas no País e 24%, a bolsas no exterior. Com o objetivo de estimular a internacionalização das atividades de inovação e pesquisa, a Fapesp também concedeu 904 bolsas de estágio em pesquisa no exterior. Desse total, 480 bolsas financiaram estágios na Europa e 357, nos Estados. Por área do conhecimento, a Fapesp priorizou as ciências da vida, as ciências exatas e engenharia, que receberam 77% dos desembolsos.
Criada em 1960 para financiar a pós-graduação, apoiar o avanço do conhecimento e dar suporte à infraestrutura de pesquisa, a Fapesp recebe 1% da receita tributária do Estado, por determinação da Constituição estadual de 1989, e também pode fazer acordos e convênios com agências e empresas. Mantém, ainda, recursos patrimoniais investidos, cujo retorno financia parte de suas atividades. Por sempre ter privilegiado o princípio do mérito e fechado as portas a pressões políticas e ideológicas, a Fapesp cumpre de modo exemplar o papel para o qual foi criada, o que a tornou uma instituição respeitada mundialmente.
Nesse momento em que o País precisa de educação de qualidade, tecnologia de ponta e capital humano para a passagem a níveis mais sofisticados de produção, os valores institucionais da Fapesp devem servir de exemplo para o governo que assumirá os destinos do Brasil dentro de um mês. O que o País precisa, na área do ensino e tecnologia, é de uma gestão técnica e eficiente, como a que impera na Fapesp, e não de diretrizes morais ou religiosas.
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