Nesta terça-feira 27 de novembro haverá em Londres mais um ato do “affaire” Facebook – Cambridge Analytics. Conta com a presença de representantes legislativos de 8 países, incluindo o Brasil. Um tema que está longe da pacificação mas, ao menos para nós, com a promulgação da LGPD - Lei Geral de Proteção de Dados, estamos num momento melhor .
A exposição e uso inadequado de dados pessoais, mesmo não sendo algo recente, ganhou um impulso exponencial com a Internet quando passou a ser modelo de negócio de plataformas como as redes sociais.
Se remontarmos ao início da comunicação coletiva, lembraremos que meios impressos antigos contavam com o suporte financeiro provido pelos seus assinantes. Não foi muito diferente a implantação do rádio, que também lançou mão de “rádio-clubes”, de onde imaginava receber os recursos para instalação, equipamentos e funcionamento.
A entrada em cena da publicidade alterou completamente esses modelos econômicos. Se por um lado, com os recursos dos anunciantes os meios puderam se difundir entre todos os públicos e não apenas entre os antigos assinantes, por outro o consumidor potencial passou a ser objeto visado. Rapidamente rádio e televisão firmaram-se como formas “gratuitas” de difusão de entretenimento e notícias, contando com o fluxo crescente das verbas de publicidade. A publicidade àquela época era um “jogo cego”: classificados de jornais atingiam indistintamente um público genérico. Pequena parte dos leitores iriam se interessar, por exemplo, pelo anúncio dos imóveis anunciados enquanto outros, a maioria, iriam usar aquelas páginas para embrulhar peixe ou forrar a gaiola do canário.
Com a Internet e a expansão da Web houve a possibilidade de medir e calibrar o impacto de anúncios. Podendo saber das visitas a cada setor das páginas, vendem-se anúncios mais efetivos e, logicamente, mais caros. Saber quem está vendo meu anúncio, ou quem potencialmente se interessaria pelo meu produto, melhora drasticamente o resultado das campanhas.
A aposta na publicidade aumentou muito, e permitiu que serviços sofisticados, que demandam recursos imensos pudessem ser implementados na Internet, dada a expectativa de lucros ao colecionar e selecionar os possíveis interessados nos produtos anunciandos. E, claro, essa coleta de dados viabiliza toda uma nova leva de serviços (… com os respectivos riscos) à comunidade. Saber onde estão os automóveis num dado momento permite sugerir caminhos. Saber que tipo de remédios alguém procura na rede pode indicar alguma enfermidade. Conteúdos lidos podem revelar interesses e propensão ideológica. E... saber o que você escreve e de que comunidades participa, delineará seu perfil. Tudo isso passa a ser parâmetro, desde seleção de candidatos a emprego, ofertas de seguro de carros e de planos de saúde e até, claro, para disparar ações que podem trazer ainda mais riscos.
O modelo de negócio que nos dá acesso livre e grátis a serviços e informações, hoje indispensáveis, funda-se em obter e usar nosso perfil como consumidor, mas também permite conhecer nossas características pessoais, emocionais e ideológicas. É quase uma barganha faustiana. A forma de minimamente obter alguma proteção é estabelecer limites éticos, transparência nos interesses e ações, e razoabilidade quanto aos dados solicitados. Aí, ao menos, poderemos contar com a ajuda da LGPD.
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