Na sessão da Câmara que tentou votar o Escola sem Partido, terça (13), defensores do projeto conversavam em voz alta no intervalo.
Um dos temas era a “falta que há neste país de jornalistas investigativos não ideologizados”. O acidente aéreo que matou o presidenciável Eduardo Campos (PSB) em 2014, por exemplo. Por que os repórteres catequizados em Havana não iam atrás da suspeita de que a aeronave se chocou contra outra, poucos meses depois de o PT, curiosamente, ter comprado drones da Rússia?
Sim, para haver um pingo de sentido, seria preciso um senhor complô envolvendo um sem-fim de pessoas e instituições, incluindo Aeronáutica e Polícia Federal, todos devidamente mudos até hoje, e por aí afora —mas quem se interessa por essa abstração chamada lógica?
Manifestantes contrários e favoráveis à aprovação do projeto da Escola sem Partido protestam no plenário da comissão da Câmara que analisa o tema. Representantes dos movimentos estudantis, que são contrários ao projeto, usaram cartazes e mordaças para protestar Pedro Ladeira - 11.jul.2018/Folhapress
Teorias conspiratórias sempre existiram. O chato é que com a internet elas se reproduzem como coelhos. Aliado a isso, ocorrências históricas, como o Holocausto e a escravidão, e teorias lapidares, como a da evolução das espécies, sofrem questionamentos sem qualquer lastro.
Adeptos da falsa equivalência ainda as barbarizam sem dó ao equipará-las a trambolhos pseudocientíficos, batatadas olavo-de-carvalhianas ou teses à Ursal —tratando como ponto de vista divergente o que é só ponto de vista sem pé nem cabeça.
No decorrer dos séculos milhões de pessoas dedicaram a vida ao saber humano, à formação e compreensão da ciência e da história, em uma marcha metódica e criteriosa de pesquisas, estudos, teorias, observações, investigações, testes, tudo submetido ao contraditório e ao escrutínio da academia e do tempo.
Mas basta um tuíte da tia-avó para alguém sair cacarejando por aí que Hitler, na verdade, terminou a vida plantando bromélias na Patagônia.
O jornalismo e o ensino de qualidade têm a obrigação de expor, com equilíbrio, todos os lados de temas controversos. Só é preciso diferir, sem pudor, o que é de fato controverso daquilo que não passa de desvarios dos acadêmicos do zap-zap.
Ranier Bragon
Repórter da Sucursal de Brasília, foi correspondente em Belo Horizonte e São Luís. Formou-se em jornalismo pela PUC-MG.
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