O verdadeiro teste da administração Bolsonaro será na economia. Ou ele faz as reformas que lhe darão fôlego orçamentário para governar até 2022, ou viveremos tempos conturbados. E, enquanto o futuro presidente e sua equipe econômica tentam se entender sobre o que farão, o núcleo bolsonariano vai entretendo a parte mais barulhenta de sua base eleitoral com pautas ligadas às guerras culturais.
A mais visível delas é o Escola sem Partido, que pretende vetar o proselitismo político em sala de aula. Ainda que se possa concordar, abstratamente, com a tese de que professores deveriam ensinar seus alunos e não tentar convertê-los para suas causas, o projeto é uma das iniciativas legislativas mais estúpidas que já li em minha vida.
A proposta erra no diagnóstico, revela-se patética na terapêutica e teria resultados quase certamente desastrosos se implementada. Ainda que professores, particularmente os de ciências humanas, tendam a ter opiniões de esquerda e por vezes as impinjam a seus estudantes, há pelo menos meia dúzia de problemas muito mais graves no sistema educacional que mereceriam a atenção de legisladores e do Executivo.
O que desafia mesmo a compreensão é achar que a questão dos limites entre ensinar e doutrinar, que provavelmente não tem solução, possa ser resolvida com a edição de normas genéricas sobre o dever de neutralidade dos professores e de uma ridícula proibição do uso da palavra “gênero” em toda a rede de ensino. “Gênero”, vale lembrar, não é um termo empregado apenas nas temidas aulas de educação sexual, mas também designa categorias importantes em biologia, gramática e teoria literária.
Em termos concretos, só o que o projeto seria capaz de produzir são campanhas de intimidação de professores, que teriam o dom de piorar ainda mais a nossa educação, já bem fraquinha. Aliás, isso já está acontecendo em alguns lugares antes mesmo de a proposta ser aprovada.
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