quinta-feira, 8 de novembro de 2018

À vontade, Trump insulta repórteres como candidatos de 'reality'. FSP

Presidente americano brigou com repórter da CNN e outros jornalistas em entrevista coletiva

De um púlpito, Trump aponta o dedo para o jornalista, que aparece de costas
O presidente dos EUA, Donald Trump, discute com um jornalista durante entrevista coletiva nesta quarta-feira (7) em Washington - Evan Vucci/Associated Press
Nelson de Sá
SÃO PAULO
Os democratas viraram maioria na Câmara, mas isso já era previsto —e Trump ampliou seu poder no Senado, o que deu a ele liberdade para demitir de imediato seu desafeto da Justiça, com folga para aprovar o substituto.
No intervalo, o presidente americano deu uma longa entrevista coletivae, empoderado, à vontade como nos tempos do reality show "O Aprendiz", em que seu bordão era "you're fired" (você está demitido), abusou seguidamente dos repórteres.
Yamiche Alcindor, da PBS, perguntou se seu "nacionalismo" é também "nacionalismo branco", como são chamados grupos racistas de extrema-direita no país. Trump provocou Alcindor, que é negra: "É uma pergunta tão racista".
Noutro momento, ele recusou uma questão de April Ryan, da rede de rádio American Urban e comentarista eventual da CNN, também negra, ordenando: "Sente-se".
Mas o maior confronto foi com Jim Acosta, que cobre Casa Branca para a CNN. Começou com uma expressão de irritação, quando o repórter anunciou que iria desafiá-lo ("challenge") sobre uma declaração da campanha.
"Lá vamos nós", comentou, irritado. O diálogo foi daí para baixo. Trump ironizou, por exemplo, uma descrição feita por Acosta: "Obrigado por me contar, agradeço". Mais alguns entreveros e o presidente dos EUA perdeu a paciência:
"Sinceramente, eu acho que você deveria me deixar comandar o país. Você comanda a CNN. E, se você fizesse isso bem, sua audiência seria muito melhor."
Acosta insistiu, Trump cortou seguidamente: "Já basta, já basta". Depois: "Já basta, entregue o microfone". Uma funcionária da Casa Branca tentou pegar o microfone, mas o repórter resistiu.
Quando Acosta entregou afinal o microfone, Trump voltou ao pódio e dirigiu-se a ele, como se fosse um candidato de seu velho programa: "A CNN devia ter vergonha por ter você trabalhando lá. Você é uma pessoa grosseira, horrível. Você não deveria estar trabalhando na CNN".
Entrou o repórter seguinte, Peter Alexander, da NBC, que tentou defender o colega, apenas para ouvir, do presidente: "Bem, eu não sou também um grande fã seu, para ser sincero". Depois, no mesmo tom: "Você não é o melhor".
Acosta se levantou para falar alguma coisa sem microfone, ao que Trump reagiu: "Quando você publica 'fake news', o que a CNN faz bastante, você é o inimigo do povo"
No debate online que se seguiu, colegas elogiaram Acosta por não ter abaixado a cabeça, enquanto outros compararam Trump a ditadores como Hitler e falaram da necessidade de reagir no mesmo tom às grosserias.
A CNN divulgou uma nota: "Os ataques contínuos deste presidente à imprensa foram longe demais. Eles não são apenas perigosos. Eles são perturbadoramente antidemocráticos. Uma imprensa livre é vital para a democracia, e nós apoiamos Jim Acosta e seus colegas jornalistas de todos os lugares".
Mas outros colegas lembraram, não sem razão, como fez um editor do Sun, do mesmo grupo pró-Trump da Fox News, que Trump é um caso à parte, por conceder "mais entrevistas e mais longas". 
E com mais audiência.

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