Pleitos são mais ou menos decididos no 'cara ou coroa'
A declaração de Jair Bolsonaro (PSL) de que cabe à mulher a decisão de abortar deveria ter causado um rebuliço entre seus eleitores, por razões óbvias, mas o que se viu foi só negação. Fake news, disseram, sem ler o conteúdo da reportagem, porque é algo que seu candidato não falaria.
Mas foi o que Bolsonaro disse, ainda que não tenha mudado sua posição como parlamentar: votaria contra a legalização. É no mínimo incoerente. Na vida privada, vale uma coisa. Na pública, Bolsonaro acha que pode decidir por milhões de mulheres. Esse episódio deixa evidente que, para o eleitor que já decidiu seu voto, pouco importa que seu candidato seja coerente.
O mesmo vale para os que vão de Ciro Gomes (PDT), alternativa da esquerda ao PT, preferido inclusive por parte da classe artística. Ele acaba de indicar como vice a senadora Kátia Abreu, que defende o porte de armas e se opõe a alterar a lei do aborto. Duvido que perca muitos votos apesar da contradição nas pautas.
Certos estavam os autores do livro “Democracia para Realistas”, Christopher Achen e Larry Bartels, ao mostrarem que os cidadãos, na hora de votar, não tomam decisões conscientes, baseadas em dados e evidências. Estão ocupados com suas vidas e não têm quase nenhuma informação útil sobre política e suas implicações. Eleições são mais ou menos decididas no “cara ou coroa”.
As escolhas acabam sendo coletivas, seguindo o que seus grupos sociais determinam. A única “ideia” na qual os eleitores do PT votam é no seu improvável candidato, Lula. Assim como os de Bolsonaro acham graça quando ele diz que vai perguntar no Posto Ipiranga (como se referiu ao seu guru Paulo Guedes) sobre economia, sem se importar com o plano de governo.
Teremos um novo presidente, mas a maioria dos brasileiros não faz a menor ideia do que ele pretende fazer de concreto, independentemente de quem seja.
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