Encurralado pelas articulações da cúpula do PT, Ciro Gomes (PDT) busca um caminho pelo “não lulismo” para recuperar fôlego na campanha. O pedetista se viu isolado na esquerda. Passou a fazer acenos a um eleitorado que concorda com suas ideias, mas se distancia do ex-presidente e do petismo.
Nos últimos meses, Ciro havia alfinetado o PT, mas preservava Lula para não alienar o eleitorado que ficará órfão com o provável impedimento da candidatura do ex-presidente.
O pedetista rompeu esse pacto velado de não agressão nesta segunda (6). Em conversa com empresários, criticou as negociações que o deixaram quase sem alianças. “Querem resolver as eleições em gabinetes ou em celas”, disse, em referência a Lula. A plateia gostou. Ciro sorriu.
Em pouco mais de 48 horas, o presidenciável atacou o partido e o próprio ex-presidente outras duas vezes. No sábado (4), em tom amargo, disse que “a cúpula do PT está numa viagem lisérgica” por tentar atraí-lo para uma aliança de última hora.
“Com dor no coração, não espero mais nada do Partido dos Trabalhadores agora”, afirmou. “O interesse do PT passa longe do interesse público. Parte da tragédia que o país está vivendo devemos a esse comportamento estranho do partido.”
Depois de negociar com os petistas e com as siglas do centrão, Ciro acusou a traição. “É só fuxico, só tratativa de gabinete, só conchavo, só rasteira, só punhalada pelas costas. A base moral da falta de escrúpulo na política é a mesma base moral de quem tem falta de escrúpulo diante do dinheiro público”, disparou.
Sozinho por imposição externa, Ciro acena como um outsider. Para se diferenciar do PT, acusa o partido e Lula de fazer uma política suja, que tem laços com a corrupção.
A imagem do candidato apunhalado representa um risco, já que Ciro sempre se vendeu como um governante hábil nas articulações partidárias. Além disso, resta saber se ele comerá as próprias palavras caso precise pedir ou dar apoio a um petista no segundo turno.
Bruno Boghossian
Jornalista, foi repórter da Sucursal de Brasília. É mestre em ciência política pela Universidade Columbia (EUA).
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