quarta-feira, 4 de setembro de 2024

Crise climática faz gestão Tarcísio acelerar ações contra desabastecimento de água, FSP

 

São Paulo

As mudanças climáticas preocupam a gestão Tarcísio de Freitas (Republicanos) pelos riscos que trazem ao abastecimento de água em São Paulo, e o governo estadual intensificou ações de "curtíssimo prazo" para mitigar os efeitos do tempo seco nos reservatórios. É o que diz a secretária de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística, Natália Resende, sobre as providências do governo para prevenir a falta d'água.

O assunto ganhou importância devido à onda de incêndios que atingiu o interior paulista há pouco mais de dez dias, à falta de água em municípios, à queda do nível de reservatórios, e à previsão de que o tempo seco deve perdurar nas próximas semanas.

Resende classifica a atual estiagem no estado como um evento de emergência "fora da normalidade", mesmo que o nível dos reservatórios que abastecem a região metropolitana esteja dentro do esperado, em sua avaliação.

A imagem mostra uma área de praia com um homem sentado de costas, observando o cenário. À sua frente, há um sinal de advertência que diz 'PERIGO'. No fundo, é possível ver um lago e algumas pessoas, incluindo uma que está andando de bicicleta na areia. A vegetação ao redor é escassa e o céu está claro.
Estiagem: Baixo nível de água na represa de Guarapiranga aumenta faixa de areia em local conhecido por praia do Lola, no Jardim Santa Helena, na zona sul de SP - Eduardo Knapp/Folhapress

Seis dos sete sistemas de água que abastecem a região metropolitana de São Paulo estão mais secos hoje do que há um ano, e o conjunto está 20% mais baixo. A situação é mais grave no interior, especialmente nas regiões de Bauru e na bacia dos rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí (o PCJ), onde algumas cidades fazem racionamento.

"É por isso que a gente está atuando no curtíssimo prazo, por isso que estamos fazendo desassoreamento [e perfuração de poços]", disse a secretária estadual à Folha. Ela relacionou as mudanças climáticas diretamente às ações de segurança hídrica de médio e longo prazo planejadas pela pasta. "De fato, a gente está num evento que a gente pode considerar fora da normalidade", ela afirmou sobre a atual estiagem.

Resende não descartou o risco de uma estiagem ainda mais grave em 2025, e diz que o governo trabalha em mais de uma frente para mitigar os efeitos no abastecimento de água caso isso se concretize.

"É por isso que a gente está atuando no curtíssimo prazo, por isso que a gente está fazendo desassoreamento em Bauru, no rio Batalha", afirmou. "A gente já fez esse desassoreamento em mais de 225 cursos d'água. Isso é importante tanto na seca quanto na enchente. Na seca, porque ele ajuda a questão de captação, ele ajuda o fluxo d'água. Na enchente, porque ele ajuda a mitigar [a inundação] também quando chove."

Natália Resende, secretária de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística do governo de São Paulo
Natália Resende, secretária de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística do governo de São Paulo - Rogério Cassimiro/ Governo do Es/Rogério Cassimiro-18.ago.2023/Governo do Estado do SP

As obras mais importantes na região do PCJ, porém, só serão entregues daqui a 22 meses, na melhor das hipóteses. São dois reservatórios de água, um na cidade de Pedreira e outro entre os municípios de Duas Pontes e Amparo. As obras já estavam previstas há dez anos, quando o governo estadual acelerou ações de combate à estiagem em meio à crise hídrica de 2014.

"A gente pegou um contrato que tinha muitos problemas, estava paralisado praticamente, e aí você tem que seguir todo o processo que está previsto em lei para conseguir fazer a rescisão desses contratos", disse Resende. "Tem que rescindir, tem que multar, tem que sancionar a empresa, isso a gente fez."

Há duas semanas, quem alertou para a possibilidade de secas mais graves em 2025 e 2026 foi o professor Antônio Carlos Zuffo, do departamento de Recursos Hídricos da Unicamp. Ele diz que há expectativa de atrasos na volta do período chuvoso deste ano e, consequentemente, o risco de que as chuvas não sejam suficientes para que os reservatórios não acumulem água suficiente para atravessar o período seco do ano que vem em níveis satisfatórios.

'Conjunção de fatores' explica incêndios, diz secretária

Sobre os incêndios que ocorreram há cerca de duas semanas, especialmente na região de Ribeirão Preto, Resende destacou que houve uma "conjunção de fatores" que contribuiu para que eles alcançassem proporções tão grandes —moradores de um condomínio tiveram de deixar suas casas e nuvens de fumaça fizeram o dia escurecer mais rápido.

Ela ressaltou que as condições de temperatura, umidade relativa do ar e força dos ventos favoreceu a expansão das chamas, além da ocorrência de incêndios criminosos. Na semana passada, Tarcísio afirmou que, até o momento, não há indícios de ação coordenada entre criminosos que foram presos em cidades diferentes por incendiar áreas rurais.

A secretária afirmou que o governo estadual intensificou ações de prevenção contra queimadas, especialmente em unidades de conservação florestal e em beiras de estrada. As principais ações são a abertura de aceiros —espaços livres abertos no entorno da mata e na beira de estradas para barrar o espalhamento do fogo—, contratação de brigadistas e compra de equipamentos de combate a incêndio.

Segundo Resende, R$ 8,9 milhões foram investidos em ações de prevenção nas unidades de conservação e quase R$ 65 milhões para as estradas administradas pelo DER (Departamento de Estradas de Rodagem).

terça-feira, 3 de setembro de 2024

Preocupação com custos de moradia atinge recorde em países ricos, FSP

 Valentina Romei

Sam Fleming
Londres | Financial Times

Insatisfação com os custos de moradia atingiu um recorde em países ricos, superando outras preocupações como saúde e educação.

Metade dos entrevistados em nações da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) está insatisfeita com a disponibilidade de moradias acessíveis, de acordo com dados da Gallup Analytics, um aumento acentuado desde que os bancos centrais aumentaram as taxas de juros para lidar com a pior onda de inflação em uma geração.

A imagem mostra um edifício em processo de demolição, com parte da estrutura já derrubada. No primeiro plano, duas mulheres estão atravessando a rua, enquanto um ciclista passa ao lado. Ao fundo, uma máquina de demolição está operando, e há uma área cercada com cones de sinalização. O céu está claro e ensolarado.
Pedestres caminham em rua de Guernica, na Espanha - Vincent West/Reuters

Enquanto as taxas mais altas ajudaram a reduzir os preços das propriedades em vários países europeus, a moradia continua mais cara do que antes da pandemia —mesmo antes de considerar os custos mais altos de empréstimos.

Nos EUA, os preços das casas dispararam apesar dos aumentos nas taxas de juros. Quase 60% dos entrevistados na maior economia do mundo disseram estar insatisfeitos com o estoque de moradias acessíveis.

Enquanto isso, os aluguéis dispararam em um momento em que os preços mais altos de outros itens essenciais, como alimentos e combustível, têm reduzido a renda disponível.

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Pesquisadores culpam em parte a falta de construção de novas casas pela crise de acessibilidade.

"Basicamente não construímos o suficiente", disse Willem Adema, economista sênior da divisão de políticas sociais da OCDE, acrescentando que os construtores muitas vezes visam os lares mais ricos, exacerbando a pressão sobre aqueles com rendas mais baixas.

Andrew Wishart, analista da Capital Economics, disse: "As tendências populacionais podem mudar muito mais rápido do que você pode mudar o fornecimento de moradias."

A insatisfação com a moradia está prevista para desempenhar um papel importante nas eleições deste ano, especialmente nos EUA, onde os eleitores vão às urnas em novembro.

O preço médio das casas agora está quase 38% mais alto do que quando o presidente dos EUA, Joe Biden, assumiu o cargo em janeiro de 2021, de acordo com o índice Case-Shiller.

Pesquisa do Joint Center for Housing Studies da Universidade de Harvard mostrou que o pagamento mensal de moradia em uma casa de preço mediano com um empréstimo de baixo depósito, como preferido pelos compradores de primeira viagem, agora é de US$ 3.096 (R$ 17,5 mil) — em comparação com cerca de US$ 2.000 em janeiro de 2021.

Enquanto isso, muitos proprietários existentes garantiram hipotecas de 30 anos a taxas ultrabaixas e, como um todo, estão pagando menos no serviço da dívida como porcentagem da renda do que em qualquer momento desde 1980, de acordo com Harvard.

Os dados da Gallup, com base em respostas de mais de 37 mil pessoas nos 37 países que compõem o clube de estados ricos da OCDE, mostram que a insatisfação com a acessibilidade da moradia é maior entre os menores de 30 anos e aqueles com idades entre 30 e 49 anos, muitos dos quais podem estar tentando adquirir uma propriedade. Cerca de 44% dos maiores de 50 anos estavam insatisfeitos com a habitação nos países da OCDE, mas a proporção subiu para 55% para os menores de 30 anos e 56% para aqueles com idades entre 30 e 49.

Na Inglaterra, os preços das casas agora são oito vezes o salário anual médio, de acordo com estatísticas oficiais. Isso é mais do que o dobro da proporção vista quando o último governo trabalhista assumiu o cargo em 1997. O número de domicílios vivendo em acomodações temporárias na Inglaterra também está em um nível recorde.

Aproximadamente 30% da população em países ricos estava insatisfeita com o sistema de saúde, educação e transporte público. A infelicidade com o padrão de vida aumentou em 2023, mas apenas ligeiramente, subindo de 24 para 25%.

A Pesquisa Mundial Gallup é compilada anualmente, com a pesquisa de 2023 baseada em respostas de 145.702 pessoas em 142 países e ponderada de acordo com a população. Os entrevistados são questionados sobre uma série de questões socioeconômicas e políticas.

Alguns países onde os dados de 2024 já estão disponíveis mostraram um aumento adicional na insatisfação com a habitação este ano. Na Alemanha, a parcela daqueles insatisfeitos com a disponibilidade de habitação acessível subiu para um novo recorde de 46%, acima dos 42% em 2023 e mais do que o dobro dos níveis até 2012. Na Espanha, a parcela daqueles insatisfeitos com a habitação subiu para 62% em 2024, o mais alto desde a crise financeira.

Economia tem melhor triênio desde 2013 e mal sabemos o motivo da melhora, VTF _FSP

 O crescimento da economia em um trimestre não era tão rápido desde 2013. Quem der uma olhada na tabela do IBGE pode dizer que o ritmo era mais rápido no segundo semestre de 2020. Mas isso é ilusão de ótica. A economia apenas se recuperava da paralisação provocada pela Covid-19.

É possível que o PIB (Produto Interno Bruto) deste 2024 cresça tanto quanto em 2013: 3%. Se for assim, o país terá tido também o melhor triênio desde o começo da Grande Recessão (2014-2016).

A imagem mostra o interior de um supermercado, com várias pessoas em fila nos caixas. Algumas pessoas estão empurrando carrinhos de compras, enquanto outras estão organizando suas compras nas esteiras. O ambiente é iluminado, com prateleiras visíveis ao fundo e sinalização suspensa indicando os caixas. Há uma variedade de produtos visíveis nas prateleiras e no chão.
Crescimento econômico no segundo trimestre é de 1,4%, aponta IBGE - Rivaldo Gomes/Folhapress

Nada disso estava nos prognósticos dos economistas. O crescimento do segundo trimestre deste 2024 foi muito maior do que o previsto. O crescimento de 2022 (3%) e 2023 (2,9%) foi escandalosamente maior do que o previsto (0,36% e 0,8%, respectivamente, ao final do ano anterior). Os erros vêm desde 2020. Mas, por causa da desordem da epidemia, é possível dar um desconto para as bolas foras de 2020 e 2021.

E daí? O IBGE não faz as contas do PIB para avaliarmos o "reality show" das previsões dos economistas. No entanto, três ou quatro anos de prognósticos tão errados sugerem que entendemos mal o que se passa na atividade econômica. Se o entendimento é precário, os diagnósticos de problemas também devem estar mais imprecisos.

Antes de prosseguir, diga-se que não está acontecendo milagre, mas o fim de uma depressão (2014-2022). Além do mais, em teoria, há indícios de que esses anos melhores de crescimento teriam limites.

Por exemplo, a taxa de investimento estava em 16,8% no segundo trimestre desde ano. Taxa de investimento: fatia dos recursos do PIB, da renda nacional, destinada à construção de moradias, infraestrutura, instalações produtivas, à compra de máquinas, equipamentos, softwares etc. Isto é, ao aumento da capacidade da economia de produzir mais bens e serviços.

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Desde o ano 2000, essa taxa de 16,8% apenas não é menor do que a registrada nos anos do fim da Grande Recessão e antes da epidemia. Investimento baixo (oferta insuficiente) tende a resultar em alguma inflação ou também em déficit externo crescente (comprar mais no exterior aquilo que consumimos). Haveria ruído na medida do investimento? Ou o investimento seria agora mais eficiente?

taxa de desemprego está em 6,8%. Estaria tão baixa que poderia começar a provocar alguma inflação devida à alta de salários (por suposta escassez de mão de obra). A massa salarial (soma de todos os rendimentos do trabalho) está crescendo ao ritmo impressionante de 8% ao ano, em termos reais, já descontada a inflação. O salário médio cresce a uns 5% ao ano, ritmo maior do que o do final dos anos da bonança de commodities e crescimento (2012, 2013).

Há INDÍCIOS de que a alta de salários possa estar começando a bater na inflação. Mas já se previu que haveria problemas quando a taxa de desemprego estava em 8%. Salário e emprego crescem muito além das previsões faz anos.

Quais as mudanças recentes mais visíveis na economia? O petróleo. Avanço ainda maior do agro. Reformas microeconômicas desde 2017, de efeito difícil de medir. As medidas de produtividade média não indicam melhora. Isto é, potencial de crescer mais. Estariam também (mais) erradas?

Não dá para explicar as "surpresas" pelo aumento real do gasto público (13% ao ano até junho desde 2024), do agro, do petróleo. Isso tudo é estatística sabida. Mas, talvez por causa desses fatores, algo esteja acontecendo no miolo mais opaco da economia. Francamente, sabe-se lá o quê.

Enfim, é possível que períodos de gasto público muito acelerado (como agora) e/ou pouco eficiente terminem em contrações econômicas ruins (esse foi um dos fatores da Grande Recessão). Mas não é disso de que se trata aqui, do futuro, mas do passado recente.

No futuro imediato, em tese haveria uma desaceleração. As taxas de juros de mercado subiram, a Selic não vai cair tão cedo (se não subir um tanto). O gasto público vai crescer menos no ano que vem. Gasto das famílias, comércio, serviços já deram uma desacelerada —pontual?

O que se sabe é que a economia está no melhor ritmo trienal de crescimento desde 2013, 11 anos, e não soubemos nem o motivo disso nem quanto tempo a melhora vai durar.