quinta-feira, 13 de março de 2025

PT e base de Tarcísio dividem cargos para manter deputado do PL no comando da Assembleia, FSP

 Ana Luiza Albuquerque

São Paulo

O atual presidente da Assembleia Legislativa de São Paulodeputado André do Prado (PL), conseguiu praticamente garantir sua reeleição após costurar um acordo entre a maioria dos partidos da Casa, incluindo o PT, para a manutenção de cargos já divididos entre as legendas.

A eleição para a presidência acontece neste sábado (15), e André, aliado do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) e do presidente do PL, Valdemar Costa Neto, deve contar com o voto de todos os deputados, exceto os do PSOL, que lançou uma candidatura de oposição representada pela parlamentar Paula Nunes.

Segundo o acordo costurado pelo presidente da Alesp, será mantida a proporcionalidade da Mesa Diretora, com a divisão dos cargos entre os partidos de acordo com o tamanho das bancadas. A partir daí, cabe a cada legenda definir se seguirá com os nomes atuais ou se indicará novos deputados.

Em troca do apoio a André, o PT, maior bancada de oposição, continuará à frente da Primeira Secretaria.

A imagem mostra um grupo de pessoas em um ambiente interno, possivelmente em um evento oficial. Dois homens estão em destaque, um deles segurando um documento assinado. O homem à esquerda tem cabelo curto e usa um terno escuro, enquanto o homem à direita tem cabelo mais longo e usa um terno claro. Ao fundo, há outras pessoas observando a cena, incluindo uma mulher com cabelo longo e escuro. O ambiente parece ser bem iluminado.
O governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) e o presidente da Alesp, André do Prado (PL), durante entrega de projetos à Casa - Bruna Sampaio - 19.mai.2023/Divulgação Alesp

O domínio sobre o cargo é importante porque permite a indicação de 71 funcionários comissionados. Outros departamentos da Casa, como correios e fiscalização de despesas, também ficam sob o guarda-chuva da secretaria, conhecida como "prefeitura da Alesp" por causa dessas atribuições.

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Hoje, o primeiro secretário é o deputado Teonilio Barba (PT), que, após resolução do partido, será substituído por Maurici (PT).

A Segunda Secretaria seguirá com o PSDB, que deve trocar o deputado Rogério Nogueira por Barros Munhoz. Já a Primeira Vice-Presidência continuará com o Republicanos, que deve manter no cargo o deputado Gilmaci Santos, líder do governo.

"A gente quer continuar dando sequência ao trabalho de fortalecimento da Casa e do mandato de todos os deputados. Esse é o objetivo principal", disse André do Prado à Folha.

Paula Nunes, do PSOL, afirma que a legenda não abre mão da candidatura em nome "da defesa dos direitos da população".

"Nós sabemos que existe um acordo para a composição da Mesa Diretora entre os demais partidos, mas o PSOL entende que a nossa luta para que a Alesp tenha uma postura independente em relação ao governo não pode ser trocada por cargos."

Neste primeiro mandato de André, o governo aprovou projetos como a privatização da Sabesp, a criação de escolas cívico-militares e a PEC (proposta de emenda à Constituição) que autoriza reduzir o percentual de recursos destinados à educação para aumentar os da saúde.

Em entrevista à Folha em janeiro, o deputado negou haver falta de independência na relação com governo. "Faz muitos anos que a Assembleia não tem independência como temos hoje", disse. "O governador sempre deixa claro a independência, porém [havendo] a harmonia entre os Poderes. É isso o que eu penso também."

A reeleição vem sendo costurada desde o ano passado. Em outubro, após meses de conversas entre os partidos, a Assembleia aprovou uma PEC que liberou uma única reeleição sucessiva para o presidente e os demais membros da Mesa Diretora, na mesma ou em diferentes legislaturas.

Até então, a recondução só era possível nesse último caso, o que impediria André de permanecer no posto.

Na ocasião, a PEC foi aprovada em pouco mais de um minuto, por aclamação —ou seja, sem votação individual.

Somente a bancada do PSOL, de cinco integrantes, manifestou voto contrário. O partido, porém, poderia ter pedido votação nominal e não o fez e também optou por não obstruir a votação da PEC que tornaria possível a recondução de André.

Isso porque a legenda calculou que ele já tinha maioria e que essa seria uma disputa perdida, o que poderia prejudicar as demandas dos deputados posteriormente. A expectativa era manter as vagas que o partido já tinha nas comissões —segundo parlamentares próximos das negociações para a reeleição, a composição delas ainda será definida.

Assim como o PSOL, o PT concluiu que, com os cerca de 30 votos da bancada da oposição, não seria possível fazer frente a André, que precisa do apoio de 48 entre os 94 deputados. O partido não se movimentou para reunir dissidentes e tentar construir uma candidatura.

Líder do PT na Casa, o deputado Paulo Fiorilo disse à Folha, na época, que a sigla havia apresentado uma lista de demandas ao presidente, que se mostrou disposto a encaminhar algumas e propôs mudanças em outras.

Ele afirmou que André acenou positivamente ao pedido para mudar o método de instalação das CPIs, que, segundo a oposição, privilegia a base governista, e para ouvir as bancadas no processo de nomeação para os conselhos.

O petista disse ainda que o presidente acatou reivindicações importantes do partido nos dois anos em que comandou a Casa e que, pessoalmente, não se opunha à sua recondução.

Deputados descrevem André como uma figura de perfil conciliador, capaz de estabelecer diálogo da esquerda à direita, e que mostrou habilidade na divisão de cargos na Mesa Diretora e de vagas nas comissões para consolidar apoio à sua presidência.

Por outro lado, críticos dele reclamam de uma excessiva complacência com o governo Tarcísio, o que teria transformado a Assembleia em uma linha auxiliar do Executivo.

Eles afirmam que os projetos encaminhados pela gestão estadual são pautados com rapidez e votados sem ampla discussão, em detrimento das iniciativas dos deputados.

André é um dos principais nomes cogitados para a vice de Tarcísio em 2026, caso o governador concorra à reeleição, ou como seu sucessor, se o pupilo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) decidir disputar a Presidência.

Os estatutos do Homem, Thiago de Mello, in Vermelho.org

 OS ESTATUTOS DO HOMEM

(Ato Institucional Permanente)

A Carlos Heitor Cony

Artigo I.
Fica decretado que agora vale a verdade.
que agora vale a vida,
e que de mãos dadas,
trabalharemos todos pela vida verdadeira.

Artigo II.
Fica decretado que todos os dias da semana,
inclusive as terças-feiras mais cinzentas,
têm direito a converter-se em manhãs de domingo.

Artigo III.
Fica decretado que, a partir deste instante,
haverá girassóis em todas as janelas,
que os girassóis terão direito
a abrir-se dentro da sombra;
e que as janelas devem permanecer, o dia inteiro,
abertas para o verde onde cresce a esperança.

Artigo IV.
Fica decretado que o homem
não precisará nunca mais
duvidar do homem.
Que o homem confiará no homem
como a palmeira confia no vento,
como o vento confia no ar,
como o ar confia no campo azul do céu.

Parágrafo Único:
O homem confiará no homem
como um menino confia em outro menino.

Artigo V.
Fica decretado que os homens
estão livres do jugo da mentira.
Nunca mais será preciso usar
a couraça do silêncio
nem a armadura de palavras.
O homem se sentará à mesa
com seu olhar limpo
porque a verdade passará a ser servida
antes da sobremesa.

Artigo VI.
Fica estabelecida, durante dez séculos,
a prática sonhada pelo profeta Isaías,
e o lobo e o cordeiro pastarão juntos
e a comida de ambos terá o mesmo gosto de aurora.

Artigo VII.
Por decreto irrevogável fica estabelecido
o reinado permanente da justiça e da claridade,
e a alegria será uma bandeira generosa
para sempre desfraldada na alma do povo.

Artigo VIII.

Fica decretado que a maior dor
sempre foi e será sempre
não poder dar-se amor a quem se ama
e saber que é a água
que dá à planta o milagre da flor.

Artigo IX.
Fica permitido que o pão de cada dia
tenha no homem o sinal de seu suor.
Mas que sobretudo tenha sempre
o quente sabor da ternura.

Artigo X.
Fica permitido a qualquer pessoa,
a qualquer hora da vida,
o uso do traje branco.

Artigo XI.
Fica decretado, por definição,
que o homem é um animal que ama
e que por isso é belo.
muito mais belo que a estrela da manhã.

Artigo XII.
Decreta-se que nada será obrigado nem proibido.
tudo será permitido,
inclusive brincar com os rinocerontes
e caminhar pelas tardes
com uma imensa begônia na lapela.

Parágrafo único:
Só uma coisa fica proibida:
amar sem amor.

Artigo XIII.
Fica decretado que o dinheiro
não poderá nunca mais comprar
o sol das manhãs vindouras.
Expulso do grande baú do medo,
o dinheiro se transformará em uma espada fraternal
para defender o direito de cantar
e a festa do dia que chegou.

Artigo Final.
Fica proibido o uso da palavra liberdade.
a qual será suprimida dos dicionários
e do pântano enganoso das bocas.
A partir deste instante
a liberdade será algo vivo e transparente
como um fogo ou um rio,
e a sua morada será sempreo coração do homem.

terça-feira, 11 de março de 2025

Hélio Schwartsman - Bullying de Trump não ficará sem troco, FSP

 Especialistas são mais ou menos unânimes em afirmar que, quando uma situação de bullying fica séria, os adultos precisam intervir. O bullying diplomático que Donald Trump faz contra vários países já ficou sério, mas não há adultos que possam ser chamados.

Quem desempenhava esse papel em escala global eram os EUA. Nunca foram um adulto muito exemplar, no sentido de atuar sempre com imparcialidade, mas serviam para evitar que as relações internacionais se tornassem um bullying de todos contra todos.

A imagem mostra um homem com cabelo loiro e uma expressão facial de descontentamento, sentado em um ambiente formal. Ele está usando um terno escuro e uma gravata vermelha. O fundo apresenta cortinas douradas e uma mesa escura à frente.
O presidente dos EUA, Donald Trump, despacha na Casa Branca - Evelyn Hockstein/Reuters

Sem o adulto, as coisas ficam mais complicadas. A molecada vai ter de se virar sozinha. Os mais pessimistas tenderão a prognosticar um cenário do tipo "O Senhor das Moscas", em que adolescentes deixados numa situação difícil e sem supervisão vão abandonando todos os vestígios de civilização.

"O Senhor das Moscas", porém, é um livro de ficção —e não muito realista. Uma característica notável do ser humano é que aceitamos incorrer em perdas pessoais para punir aqueles que julgamos não seguirem regras que deveriam valer para todos. Isso fica muito claro em experimentos psicológicos como o jogo de Ultimato, que os economistas comportamentais tanto apreciam.

Dando concretude aos insights dessa disciplina, a província canadense de Ontário acaba de anunciar uma sobretaxa de 25% à energia elétrica que vende para os estados americanos de Nova York, Michigan e Minnesota, o que deve resultar num aumento médio de US$ 100 mensais nas contas de luz de famílias e empresas dessas regiões. Ontário se dispõe a sofrer perdas (vender menos) para castigar quem lhe faz bullying. Se outras vítimas de Trump adotarem atitude semelhante, eleitores americanos sofrerão no bolso e possivelmente responderão nas urnas, votando contra candidatos republicanos.

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Não é uma solução ótima. Em guerras tarifárias, todos perdem. Mas pior é deixar que o valentão triunfe. Modelos matemáticos sugerem que é justamente essa "punição vingativa" que viabiliza a cooperação e torna as sociedades estáveis.