domingo, 24 de novembro de 2024

Dino determina que cemitérios de SP cobrem preços anteriores à privatização, FSP

 

BRASÍLIA

O ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Flávio Dino determinou neste domingo (24) que o município de São Paulo restabeleça a comercialização e a cobrança pelos serviços funerários, cemiteriais e de cremação tendo como valores máximos aqueles que eram cobrados antes da privatização.

Em sua decisão, Dino determina então como teto máximo dos serviços aqueles cobrados antes da privatização, atualizados pelo índice IPCA até a presente data.

"Com isso, objetiva-se evitar danos irreparáveis ou de difícil reparação em desfavor das famílias paulistanas, em face de um serviço público aparentemente em desacordo com direitos fundamentais e com valores morais básicos", afirma o ministro, em sua decisão.

foto mostra túmulos com vegetação alta em volta e mais alta que eles
Cemitérios de São Paulo, como o da Vila Formosa, na zona leste, ainda apresentavam mato alto sobre túmulos após um ano de concessão - Zanone Fraissat - 6.mar.2024/Folhapress

O ministro atendeu parcialmente uma ação ingressada pelo PCdoB, contestando a gestão privada de cemitérios e crematórios e solicitando que o município reassuma os serviços. A legenda afirma haver "graves lesões ao preceito fundamental da dignidade da pessoa humana".

"A privatização dos serviços funerários e cemiteriais tem levado a exploração comercial desenfreada pelas empresas que receberam a concessão do poder municipal, nos piores momentos da vida das pessoas que perdem seus entes queridos", afirma o partido na arguição de descumprimento de preceito fundamental.

"Preços extorsivos dão a tônica do que tem sido o calvário de quem precisa sepultar um familiar, um amigo, sobretudo para os mais pobres, que na prática não têm acesso aos serviços destinados a pessoas de baixa renda", completa a peça jurídica.

O partido lista na peça jurídica uma série de reportagens da imprensa, mostrando tratamento pelas concessionárias que são incompatíveis com os preceitos de dignidade da pessoa humana.

Uma delas, publicada neste mês, mostra que o Grupo Maya, responsável pela administração dos cemitérios do Campo Grande, Lajeado, Lapa, Parelheiros e da Saudade, cobrou R$ 12 mil para realizar o funeral de uma criança recém-nascida.

Procurado pela Folha, o Grupo Maya lamentou o ocorrido, apontou falhas no serviço de atendimento e prometeu abrir uma apuração interna sobre o fato.

A privatização dos cemitérios teve início em março de 2023. As empresas Cortel, Velar, Maya e Consolare pagaram R$ 7,2 bilhões à prefeitura para administrar as unidades pelos próximos 25 anos.

As concessionárias vão pagar R$ 646 milhões em outorgas e também repassar 4% de suas receitas aos cofres municipais.

Passado mais de um ano das concessões, os cemitérios da cidade de São Paulo ainda apresentavam uma série de problemas de zeladoria. Durante visita às unidades, em março deste ano, a reportagem da Folha encontrou invasões de imóveis próximas a túmulos, sacos de lixo no chão e locais com mato alto, muitas vezes escondendo a identificação dos mortos.

Problemas parecidos já haviam sido constatados ao longo de 2023, quando começou a operação do serviço por quatro empresas —cada uma arrematou um bloco com parte dos 22 cemitérios da capital, além do crematório da Vila Alpina, na zona leste.

Corte de gasto público?, Samuel Pessoa, FSP

 O presidente Lula e o ministro Fernando Haddad estão há semanas negociando um pacote de medidas de controle dos gastos públicos. O objetivo não é cortar a despesa pública, e sim criar condições para que o crescimento do gasto seja compatível com a base material do país.

Desde 2014 estamos em crise fiscal. A crise é, portanto, crônica. Enquanto não resolvermos a crise fiscal, não estarão dadas as condições para um ciclo de crescimento sustentado.

A crise fiscal deve-se a regras que são aprovadas pelo Congresso Nacional que demandam que o gasto público cresça sistematicamente a uma velocidade maior do que o crescimento da economia.

Dois homens estão se cumprimentando com um aperto de mão. O homem à esquerda está sorrindo e usa um terno escuro, enquanto o homem à direita, também sorrindo, veste um terno claro e uma gravata escura. Ao fundo, há uma bandeira do Brasil visível, com as cores verde, amarelo e azul.
Presidente Luiz Inacio Lula da Silva em reunião para anúncios de novos projetos APexBrasil, com o ministro da economia, Fernando Haddad - Gabriela Biló - 17.set.2024/Folhapress

O problema é que, desde que o Senado rejeitou a renovação da CPMF (Contribuição Provisória sobre a Movimentação Financeira), em dezembro de 2007, o Congresso Nacional tem barrado medidas que elevam a carga tributária.

A crise fiscal brasileira tem duas dimensões. A primeira é um déficit incompatível com a estabilização da dívida pública. A segunda é uma taxa de crescimento do gasto a velocidade superior à velocidade de crescimento da economia.

A solução da crise fiscal demanda, em primeiro lugar, a aprovação de medidas para ajustar a taxa de crescimento do gasto público ao crescimento da economia, e, em segundo lugar, elevar a carga tributária para níveis compatíveis com a solvência do país.

Nos governos Temer e Bolsonaro, a segunda dimensão da crise fiscal foi atacada: o salário mínimo passou a ser reajustado pela inflação passada, sem haver aumentos reais; e o gasto mínimo constitucional com saúde e educação passou a crescer com a inflação passada.

Essas duas medidas, além de permitir a estabilização do gasto público como proporção da economia, criavam as condições para que o crescimento do gasto fosse menor do que o crescimento da economia e, portanto, permitiam que ao longo do tempo fosse construído um superávit fiscal que estabilizaria a dívida pública.

O presidente Lula e o Congresso Nacional reavaliaram e decidiram que essas regras eram muito draconianas. Assim, decidiram reindexar os mínimos constitucionais à receita corrente líquida e reindexar o salário mínimo ao crescimento da economia.

Os desequilíbrios voltaram. A indexação do salário mínimo ao crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) demanda que todas as políticas públicas vinculadas ao benefício cresçam à velocidade do PIB somada à velocidade de concessão de novos benefícios.

A indexação dos mínimos constitucionais em saúde e educação à receita corrente líquida dificulta o ajuste fiscal por meio de elevação da receita.

A solução é procurarmos regras de indexação mais frouxas do que as que vigoravam com Temer e Bolsonaro, mas mais apertadas do que as que vigoram hoje.

Para os mínimos constitucionais, podemos empregar a mesma regra do teto dos gastos: crescimento de 70% do crescimento da receita corrente líquida, com piso de 0,6% e teto de 2,5%.

Para o salário mínimo, o crescimento real tem que ser tal que o gasto agregado nas rubricas vinculadas ao mínimo cresça à taxa de expansão do PIB.


Boulos é novo caçador de marajás com projeto do fim dos supersalários, diz psolista, FSP


SÃO PAULO

Candidato ao governo de São Paulo pelo PSOL em 2014, Gilberto Maringoni referiu-se a Guilherme Boulos, seu colega de partido, como "novo caçador de marajás" em publicação nas redes sociais.

Segundo o professor de Relações Internacionais da Universidade Federal do ABC, o deputado federal parece vestir o figurino do ex-presidente Fernando Collor com seu projeto de lei pelo fim dos supersalários no serviço público.

Em 1989, Collor apresentou-se como "caçador de marajás" na campanha que o levou à Presidência da República, com a promessa de que eliminaria funcionários que recebiam salários elevados.

Gilberto Maringoni (PSOL) durante o debate entre candidatos ao governo de São Paulo
Gilberto Maringoni (PSOL) durante o debate entre candidatos ao governo de São Paulo - Fabio Braga-25.ago.2014/Folhapress

O projeto de Boulos tem o objetivo de coibir que funcionários públicos recebam um pagamento mensal superior ao teto estabelecido pela Constituição, que hoje é de R$ 44 mil (correspondente ao salário dos ministros do Supremo Tribunal Federal).

O que acontece hoje é que a partir de remunerações conhecidas como "penduricalhos" —auxílio moradia, verba indenizatória e outras— alguns deles conseguem acumular ganhos superiores ao teto.

O parlamentar afirma, na justificativa do projeto, que "a adequação do teto remuneratório aos limites estabelecidos pela Constituição geraria uma economia de cerca de R$ 5 bilhões aos cofres públicos".

Maringoni diz que Boulos pretende "recuperar o protagonismo diante da avassaladora campanha contra a jornada 6x1, liderada por seus colegas de partido Erika Hilton e Rick Azevedo". Nesse sentido, afirma, trata-se de iniciativa de "caráter divisionista".

Ele também diz que a proposta "busca mostrar o serviço público como bagunça e fonte de desigualdades sociais, como repete a mídia" e que "a rigor, não existe a questão de supersalários no Brasil, mas salários de fome da base do funcionalismo".

O professor conclui que o projeto de Boulos carrega uma lógica "cara aos liberais" e "adentra um caminho perigoso ao voltar suas baterias para o Estado e não para ganhos privados do mundo das finanças e suas interferências na vida pública".

Segundo ele, as desigualdades sociais no Brasil se dão principalmente entre "os ganhos do trabalho e os do capital", e não entre assalariados, o que o ex-candidato a prefeito de São Paulo não teria conseguido perceber ao elaborar seu projeto de lei.