segunda-feira, 12 de março de 2018

Anhembi tem formação rochosa de período antes de dinossauros, JCNet

11/03/2018 07:00 - 
Regional


Localizada a 140 quilômetros de Bauru, município tem milhares de cones silicosos semelhantes aos geiseritos modernos de Yellostone nos EUA

Aurélio Alonso

sábado, 10 de março de 2018

Aguas pestilentas, FSP

Inexistem explicações claras, até o momento, para a água contaminada que atingiu casas da cidade industrial de Barcarena, no Pará. O fato de persistirem dúvidas de que se tratou de acidente ambiental, entretanto, não torna o episódio menos desalentador.
Descartem-se, para efeito de clareza, paralelos com a tragédia de Mariana (MG), onde o rompimento de uma barragem devastou o rio Doce. No caso paraense, o Instituto Evandro Chagas (IEC), ligado ao Ministério da Saúde, apontou um vazamento de recursos sólidos manejados pela multinacional Hydro Alunorte.
A água das chuvas que caíram nos depósitos em fevereiro teria, segundo esse laudo, transbordado. Mas outro órgão federal, o Ibama, não endossa tal conclusão.
O IEC encontrou níveis de alumínio e nitrato acima do permitido na água; de todo modo, ainda são necessários estudos adicionais para verificar se a contaminação teve origem na empresa.
Qualquer que seja o resultado, pode-se afirmar com certeza que os moradores de Barcarena sofrem desde sempre com a inoperância do poder público.
Ali se encontra o pior sistema de saneamento do país, segundo ranking da Abes (Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental) que inclui 231 cidades com mais de 100 mil habitantes. 
O levantamento mostra que, no município paraense, a taxa de internação por doenças relacionadas ao saneamento ambiental inadequado é de 181 por 100 mil habitantes. Em Franca (SP), que está próxima da universalização desse serviço, a taxa é de 10/100 mil.
Implantado nos anos 1970, o polo industrial deslocou dezenas de famílias que moravam no local, desencadeando disputas territoriais que se arrastam até hoje.
A piorar o cenário, nunca foi feito um estudo de impacto ambiental do complexo como um todo, conforme prevê a legislação. 
Não é coincidência que, desde 2000, Barcarena tenha registrado 17 acidentes ambientais de grande impacto. Dois deles, aliás, causados pela Alunorte, em 2003 e 2009, quando a fábrica pertencia à brasileira Vale —o grupo norueguês Norsk Hydro a adquiriu em 2011.
Moradores apontam agora a possibilidade de que parte da contaminação da água tenha origem num pavoroso lixão, onde estariam enterrados bois mortos em naufrágio. A mera formulação de tal hipótese dá ideia do descalabro na cidade.

quinta-feira, 8 de março de 2018

Orgânico é artigo de luxo, não a salvação do planeta - MARCOS NOGUEIRA, FSP

Na foto acima, está o montinho de lixo que achei na saída da feira orgânica do Parque da Água Branca (zona oeste de São Paulo). Minha intenção não é denunciar uma suposta falha na conduta dos feirantes – imagino que a coleta seja feita nos conformes. Quero chamar sua atenção para a caixa de papelão que aparece no alto da imagem.

Nela, está escrito “BioSüdtirol”. Südtirol (“Tirol do Sul” , em alemão) é o nome de uma região da Itália setentrional, fronteiriça com a Áustria. Uma zona alpina, de cumes nevados e vales verdejantes, com vaquinhas malhadas e pessoas rosadas, bilíngues e encasacadas. Em italiano, o lugar se chama Alto Adige. É de lá que vêm as maçãs verdes vendidas na feira orgânica. De uma paisagem que reproduz o desenho de uma embalagem de chocolate – ou vice-versa.

Absolutamente nada a ver com a zorra tropical da Água Branca, em que bermudas, regatas, chinelos e vestidinhos floridos vestem (mal e mal) a clientela ávida por belos vegetais orgânicos nos sábados de verão. Pessoas que, preocupadas com a preservação ambiental, trazem sacolas de lona para guardar as compras. Melhor dizendo, ecobags. Ecobags com a marca da rede americana Whole Foods– a Caaba da alimentação orgânica. Ecológico e chique.

Se o trajeto fosse todo em linha reta, as maçãs da BioSüdtirol viajariam 9.722 quilômetros para chegar de Lana, na Itália, a São Paulo. Alguém realmente crê que faz uma escolha ambientalmente correta ao comprá-las no Parque da Água Branca?

O mercado de orgânicos está cheio de incongruências desse tipo. Bananas embaladas individualmente. Ovos de “galinhas felizes” em estojos de plástico. Kiwis da Nova Zelândia.

É um exercício de autoengano comprar esses alimentos sob o pretexto de preservar a natureza. Seria muito mais honesto admitir que a aquisição de orgânicos se encaixa em outra categoria de consumo: o mercado de luxo.

As comidas orgânicas pertencem ao mesmo grupo que as trufas, a flor de sal, o caviar, o foie gras, o jamón ibérico, os pistilos de açafrão. São parentes do pão de fermentação natural, do queijo artesanal de leite cru, dos embutidos artesanais – outra subcategoria dos artigos de luxo que vem disfarçada de consumo consciente.

Essa identidade se manifesta no preço, na produção e no perfil do consumidor.

Vejamos: orgânicos são muito caros. Podem custar o dobro, o triplo ou outro múltiplo do valor do mesmo item produzido pelo método convencional. Mas espere aí – a produção orgânica é realmente mais cara. Beleza, argumento aceito. Examinemos então a produção.

Alimentos orgânicos são mais caros porque são produzidos em pequena escala, com maior cuidado, em operações que exigem mais mão-de-obra e de baixo rendimento. Perceba que essa descrição se aplica a qualquer item de luxo – de um par de Louboutins ao motor de uma Ferrari.

Quando falamos em “baixo rendimento”, nos referimos a duas coisas concomitantes: a baixa produtividade e o alto descarte. Numa horta orgânica e no atelier da Louis Vuitton, a produtividade é baixa porque se dedica mais trabalho a cada bolsa e a cada berinjela. E o descarte é alto porque a perfeição é a nota de corte. Retalhos de couro com pequenos defeitos e abobrinhas atacadas por passarinhos viram produto de segunda linha, ração animal e adubo. Seu valor, entretanto, está embutido no preço. Porque existe quem pague.

Falando em quem paga, examinemos agora o consumidor de orgânicos. Eu, por exemplo, que frequento a feira da Água Branca todos os finais de semana.

O comprador de orgânicos é um indivíduo urbano de classe alta ou média-alta, que não se importa em pagar mais por um produto de maior qualidade. O valor da grife – no caso, a certificação orgânica – e o desejo de participar de um clube seleto também influenciam a decisão de compra. O mesmo vale para as cervejas artesanais e para o tomahawk de gado wagyu do churrasqueiro machão.

Orgânico é exclusividade. É participar de um grupo de pessoas tão espertas quanto você, com quem você pode conversar na mesma sintonia. É mais uma bolha social do século 21.

Isto não é piada. O alimento orgânico não tem como salvar o mundo, devido a todas as características intrínsecas descritas acima – o alto preço e a baixa produtividade, principalmente.

Você pode achar que protege sua família dos defensivos químicos. Justo. Eu também penso assim, mas falta-me embasamento técnico para discutir a questão com propriedade. Eu compro orgânicos porque sei, por experiência (ou por sugestão), que eles são mais gostosos. Mas nem toda a comida que eu compro é orgânica. Isso me levaria à bancarrota. Não seria uma atitude sensata.

A consciência de que os orgânicos não são a salvação do planeta leva a decisões de compra melhores – como, por exemplo, evitar as maçãs italianas. Mas, tudo bem, eu entendo: acreditar na utopia bucólica da elite intelectual urbana é muito mais divertido e confortável.