terça-feira, 23 de setembro de 2014

Minhocão: derruba ou faz um parque?


O Minhocão tem os dias contados. Tanto que na sociedade civil já se discute se ele deve ser derrubado ou virar jardim suspenso.
Como você vai pagar a conta, é bom formar opinião.
Na semana passada estiveram em São Paulo os responsáveis pelo parque High Line, em Nova York, que, sobre uma via elevada, tem servido de inspiração para os que sonham ver um jardim construído sobre o horrível viaduto.
Robert Hammond, coautor do livro "High Line: A História do Parque Suspenso de Nova York" (BEÎ Editora), ficou fascinado com o Minhocão: "Ele é muito maior do que o High Line. Lá não havia residências dando para o elevado, só depósitos e empresas. Os nova-iorquinos não conheciam a via que deu origem ao parque. Aqui, pessoas passeiam por ela aos domingos".
Hammond diz que se o elevado for derrubado, deixará em seu lugar apenas uma avenida movimentada, mas se virar um jardim, a cidade ganha um cartão postal.
Herança podre da ditadura militar, o Minhocão sobreviveu intocado à democracia. A ligação leste-oeste atravessando o centro de São Paulo foi construída a toque de caixa por um prefeito biônico (Paulo Maluf), nomeado pelo ditador marechal Costa e Silva. Pronta, em 1970, a obra recebeu o nome do tirano, que assim segue torturando a cidade.
Ao longo desses seus 43 anos, a via elevada acabou por se tornar uma unanimidade negativa (só a voz anasalada de seu criador às vezes o defende). O que o mantém aberto é a insegurança dos governantes quanto ao impacto de seu fechamento para o trânsito.
Na última eleição, os principais candidatos (Haddad, vencedor, e Serra, segundo) disseram que gostariam de eliminá-lo se houvesse alternativa.
A alternativa já existe, prevista na Operação Urbana Lapa-Brás.
Também aparece em planos recém apresentados à prefeitura para o projeto Arco do Tietê: trata-se de uma avenida paralela e mais longa que o Minhocão, construída no leito por onde correm várias linhas de trem no sentido leste-oeste.
Há um debate entre urbanistas: essa via deve ficar ao nível do trilho dos trens ou as vias férreas devem ser enterradas, abrindo espaço para quadras urbanizadas e parques, com a avenida correndo pela superfície?
O professor emérito de Arquitetura Cândido Malta, da FAU-USP, secretário de Planejamento da prefeitura entre 1976-1981, defende a avenida ao lado dos trilhos: "O custo e o prazo de realização são menores. Mais cedo se poderá fechar o Minhocão".
Miguel Bucalem, professor da Poli-USP, secretário de Desenvolvimento Urbano da prefeitura entre 2009-2012, defende o enterramento dos trilhos e a urbanização das áreas liberadas: "Essa solução leva mais tempo, mas cria um eixo de desenvolvimento urbano que beneficiará a cidade ao longo dos próximos 100 anos".
Não há orçamentos precisos para cada uma. Cálculos chutados por pessoas experientes em obras públicas apontam algo em torno de R$ 700 milhões para a solução ao nível do chão, com inauguração em quatro anos; R$ 3,5 bilhões custaria a obra que enterra os trilhos, com prazo em torno de 15 anos.
Uma vez escolhida a solução para a nova ligação leste-oeste, junto às linhas férreas que passam pela Luz, você deverá decidir o que fazer com o Minhocão: derrubar ou transformá-lo em parque? 
leão serva
Leão Serva, ex-secretário de Redação da Folha, é jornalista, escritor e coautor de 'Como Viver em SP sem Carro'.

Trens regionais, Opinião OESP


O ESTADO DE S.PAULO
23 Setembro 2014 | 02h 05

Estudos que indicam para breve a saturação das Rodovias Bandeirantes e Anhanguera levaram o governo do Estado a apressar a construção do sistema de trens regionais ligando a capital ao interior. Ela começará com uma linha entre São Paulo e Americana, com 135 km de extensão. O edital para esse primeiro trecho do sistema deve ser lançado no ano que vem e a conclusão da obra está prevista para 2020. É de esperar que dessa vez o governo cumpra a promessa, feita pela primeira vez no ano passado, de começar a tirar do papel esse projeto, que é da maior importância para o Estado.
A Secretaria Estadual de Logística e Transportes dispõe de dados que indicam estarem aquelas duas rodovias caminhando rapidamente para uma situação insustentável, que só poderá ser evitada oferecendo-se aos que por ela circulam diariamente a alternativa de viajar em trens confortáveis, rápidos e com tarifas acessíveis. Prevê-se que a saturação começa em 2020 e que em 2030 a Anhanguera atingirá o nível máximo de esgotamento entre os quilômetros 25 e 38, durante um longo período, das 6 às 19 horas.
Em 2012, isso só ocorria no horário de pico da manhã, entre 6 e 9 horas - e num único sentido -, no trecho entre os quilômetros 49 e 52, o que mostra como a situação está se deteriorando rapidamente.
Começar a implantação do sistema de trens regionais por essa linha é, portanto, decisão ditada por uma necessidade urgente. Ela tem a vantagem de sua construção ser relativamente fácil. Não será preciso construir túneis e outras obras de porte, porque se aproveitará - devidamente recuperada e modernizada - a velha malha das antigas São Paulo Railways e Companhia Paulista de Estradas de Ferro, hoje operada por serviços de carga. Essa linha, cujo custo estimado é de R$ 5 bilhões, poderá transportar 68,5 mil passageiros por dia.
O tempo de viagem até Campinas, partindo da Estação Água Branca, na Lapa, será de 1 hora e 4 minutos e até Americana, de 1 hora e 29 minutos. Com isso, dada a saturação das duas rodovias e tarifas que, segundo o presidente da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos, Mário Manuel Bandeira, deverão ser "atrativas", o governo espera conquistar boa parte dos que hoje fazem aqueles percursos de carro.
O modelo para a construção da linha São Paulo-Americana é o de Parceria Público-Privada (PPP), já adotado na Linha 6 - Laranja do Metrô. Em 2012, uma manifestação de interesse público (MIP) por esse projeto foi apresentada ao governo do Estado por consórcio formado pelas empresas Estação da Luz Participações (EDLP) e BTG Pactual, o que é visto como uma indicação de que não será difícil de encontrar parceiros privados para tocá-lo.
Os trens regionais - o próximo, de acordo com plano anunciado pelo governo no ano passado, vai ligar São Paulo a Sorocaba, São Roque, São José dos Campos, Taubaté e Pindamonhangaba - são um elemento essencial para enfrentar os desafios criados pela formação da chamada Macrópole Paulista, que congrega os municípios localizados no raio de 200 quilômetros de São Paulo. Esse processo de conurbação é um dos mais importantes em curso no mundo.
Seus números são impressionantes. Essa macrópole engloba três regiões metropolitanas - as de São Paulo, Baixada Santista e Campinas, além de aglomerados urbanos como São José dos Campos, Jundiaí, Sorocaba e Piracicaba - e reúne 153 dos 645 municípios do Estado, com 30 milhões de habitantes. Eles produzem 80% de toda a riqueza de São Paulo e representam 27% do PIB do País. Cerca de 2 milhões de pessoas saem diariamente de seus municípios para trabalhar ou estudar em outros. Metade delas vem para a região metropolitana de São Paulo.
Está evidente que um novo sistema de transporte coletivo é um dos maiores desafios criados por essa realidade. Outro é criar estruturas administrativas capazes de enfrentar um grande número de problemas que transcendem as fronteiras municipais. Essa necessidade, que já existia nas regiões metropolitanas, foi multiplicada várias vezes.

Por causa de crise da água, Haddad vai abrir poços artesianos (com dados sobre poços no Estado)


FABIO LEITE - O ESTADO DE S. PAULO
23 Setembro 2014 | 03h 00

Perfurações serão feitas em caso de ‘emergência’ e servirão como alternativa nas subprefeituras; licitação será concluída em 1 mês

SÃO PAULO - Diante do agravamento da crise da água em São Paulo, a gestão Fernando Haddad (PT) vai contratar uma empresa para perfurar poços artesianos na cidade em caso de “emergência”. A ideia é construir uma fonte alternativa de abastecimento por cada uma das 32 subprefeituras da capital para suprir uma possível falta de água em equipamentos públicos essenciais, como creches e hospitais.
A Secretaria de Coordenação das Subprefeituras pretende concluir a licitação por ata de registro de preço em um mês, para ter o serviço à disposição por um ano e perfurar os poços em um prazo mais curto. “São para casos de emergência. Com esse modelo, conseguimos fazer um poço em 20 dias”, explica o engenheiro José Carlos Masi, assessor técnico de obras e serviços da secretaria. Em média, uma contratação por concorrência leva mais de 60 dias.
Nilton Fukuda/Estadão
Crise de estiagem que acometeu o Sistema Cantareira colocou em risco o abastecimento da capital
Segundo ele, a licitação prevê a construção de quatro tipos de poços semiartesianos, com profundidade média de 120 metros, dependendo da condição geológica do solo. A capital paulista está predominantemente sobre os Aquíferos São Paulo e Cristalino. De acordo com um fornecedor consultado pelo Estado, cada poço desse tipo custa, em média, R$ 15 mil.
Após uma consulta feita em maio, a secretaria recebeu de 24 subprefeituras a indicação de 60 endereços onde os poços podem ser construídos. Segundo Masi, os locais são hospitais e as próprias sedes das administrações regionais. Agora, técnicos da prefeitura estão visitando as áreas apontadas para uma avaliação hidrogeológica.
“Foi o prefeito quem nos pediu esse levantamento em função dessa crise de estiagem. A ideia é não precisar usar, mas precisamos ter uma alternativa nas mãos caso seja necessário”, afirmou Masi. “Assim que a subprefeitura comprovar a necessidade de um poço, acionamos a empresa contratada, que ficará encarregada de obter a licença ambiental, a outorga e construir o poço”, completou.
Para construir um poço, é preciso obter outorga de uso de água subterrânea do Departamento de Águas e Energia Elétrica (DAEE) e licença da Companhia Ambiental de São Paulo (Cetesb), ambos do governo estadual. Segundo Masi, em casos de emergência, essas autorizações podem ser emitidas em poucos dias. Em 2013, o Estado tinha 17.822 poços cadastrados, dos quais 30% eram para uso industrial ou doméstico. Apenas 11% são destinados ao abastecimento público. Muitos poços, contudo, são feitos de forma clandestina e não entram no levantamento oficial.
Abastecimento. Segundo o DAEE, 52% dos 646 municípios paulistas usam exclusivamente água subterrânea em seu abastecimento público e 19% utilizam sistema misto, com água subterrânea e superficial. Não é o caso da capital paulista, que é abastecida pela Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) com água dos mananciais.
Neste ano, porém, a crise de estiagem que acometeu o Sistema Cantareira, o maior fornecedor de água para os cerca de 11 milhões de paulistanos, em especial das zonas norte, oeste e central, colocou em risco o abastecimento da capital. O Sistema Alto Tietê, o segundo maior da Grande São Paulo e que abastece a zona leste, também está em nível crítico, apenas 12,6% da capacidade, e o Guarapiranga tem alcance limitado.
Conforme o Estado revelou em agosto, a Sabesp planejou em janeiro a criação de rodízio de água na parte atendida pelo Cantareira, no qual dividia a região em três blocos e livrava do racionamento as áreas onde ficam escolas e hospitais. O plano foi descartado e considerado inadequado pelo governador Geraldo Alckmin (PSDB), que garante o abastecimento sem rodízio oficial de água até março de 2015.