21 de março de 2014 | 21h00
Celso Ming
Em depoimento no Senado, na última terça-feira, o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, passou a informação de que a cotação do dólar já não está, como antes, atuando a favor da inflação. Ao contrário, passou a ser deflacionária, na medida em que, mais barato em reais, o dólar passou a derrubar também em reais os preços dos produtos importados e os de boa parte dos alimentos cotados em moeda estrangeira nas bolsas internacionais de mercadorias.
O mais notável é que a declaração de Tombini não disfarçou o alívio pelo tombo da cotação da moeda estrangeira. Pergunta inevitável que se pode fazer a partir dessa manifestação de alívio é sobre o que, afinal, vinha sendo perseguido: a desvalorização do real (alta da cotação do dólar) para dar competitividade ao setor produtivo, como tantas autoridades do governo vinham repetindo? Ou um câmbio mais baixo, a fim de segurar a inflação?
O ministro Guido Mantega, por exemplo, é sempre desconcertante sobre o que quer. Lá pelas tantas, reclama dos efeitos da guerra fiscal comandada pelos grandes bancos centrais cuja política de expansão monetária derruba as cotações da moeda estrangeira nos países emergentes e asfixia as indústrias locais; e, semanas depois, lamenta o impacto inflacionário produzido pela perspectiva de reversão da política monetária do Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos).
Por outra razão, Tombini parece surpreso com o que está acontecendo no câmbio interno. No fim de janeiro, em Davos, durante o Fórum Econômico Internacional, ele não escondeu o temor do que chamou de efeito aspirador. O Fed passaria a despejar menos dólares no mercado para, em seguida, começar o processo de enxugamento. E isso deixaria os países emergentes – o Brasil incluído entre eles – sujeitos à escassez de moeda estrangeira sugada pelo Fed, portanto, a alta do dólar e a mais inflação.
Não foi o que aconteceu. Ao contrário, de lá para cá, o Brasil passou a ser alvo de nova chuva de recursos. Ao longo de todo o ano de 2013, o saldo foi negativo em US$ 12,3 bilhões. Até 14 de março, tornou-se positivo em US$ 2,5 bilhões. Mas, de lá para cá, as indicações são de que entraram ainda mais.
Em boa parte, os juros altos em reais, que devem subir mais ainda, favorecem operações de arbitragem, ou seja, favorecem levantamentos de empréstimos em dólares no exterior a juros rastejantes para serem trocados por reais e renderem mais depois de aplicados aqui.
Embora não se saiba em que proporção, dois outros fatores contribuíram decisivamente para a nova entrada de dólares no câmbio interno. O primeiro desses fatores é a percepção dos analistas estrangeiros de que a economia dos emergentes, em especial a do Brasil, não está tão mal quanto lhes parecia. Foi, por exemplo, o que alardeou ainda na semana passada o Prêmio Nobel de Economia Paul Krugman. Não se trata de melhora da confiança, mas de tamanho do risco assumido no curto prazo.
O outro fator que ajudou a despachar dólares para o Brasil foram as declarações feitas quarta-feira pela nova presidente do Fed, Janet Yellen, de que seria ultrassuave na reversão da política monetária e só começaria a puxar pelos juros em 2015. Ou seja, o aspirador americano não será a ameaça temida por Tombini. Está funcionando ao contrário.
CONFIRA:
O gráfico mostra o comportamento do IPCA-15. Os dados ainda não incorporaram a alta do preço dos alimentos em consequência da seca que já foi captada no mercado atacadista.
É outra coisa
O Conselho de Administração da Petrobrás que aprovou a decisão de compra da Refinaria de Pasadena (Texas) em 2006, que se revelou altamente lesiva à empresa, tinha quatro empresários do setor privado: Claudio Haddad, Jorge Gerdau, Fábio Meirelles e Arthur Sendas. Pergunta: teriam eles aprovado esse negócio se a empresa fosse deles?