terça-feira, 22 de julho de 2025

Trump, Epstein e o impacto no Brasil, Juliano Spyer, FSP

 Se, no Brasil, o nome Trump apareceu associado ao tarifaço e à rusga com o STF na semana passada, nos EUA ele surgiu nas capas dos maiores jornais do país ao lado de Jeffrey Epstein, um pedófilo que morreu de forma misteriosa na cadeia durante o primeiro governo Trump.

Em seu podcast, o jornalista Ezra Klein entrevistou o repórter Will Sommer, do Washington Post, para discutir um aspecto dessa história que envolve religião e teorias conspiratórias.

No início do governo Trump, surgiu e se popularizou o QAnon, um movimento político da extrema direita centrado em teorias conspiratórias. Parte da base de apoiadores de Trump, o grupo defende a existência de um "Estado profundo" formado por bilionários, políticos e celebridades que controlariam a sociedade com seu dinheiro e influência.

A imagem mostra um grupo de homens em um ambiente interno, possivelmente em um evento social. Um homem à esquerda, com cabelo laranja e terno escuro, está falando e gesticulando. Ao seu lado, um homem com cabelo grisalho e camisa jeans está sorrindo e com os braços cruzados. Outros homens estão visíveis ao fundo, mas não estão em foco. O ambiente tem paredes decoradas e uma iluminação suave.
Um vídeo gravado pela NBC mostra Donald Trump em Mar-a-Lago com Jeffrey Epstein em 1992 - Reprodução CNBC no Youtube

Essa mitologia ecoa em grupos cristãos ao retratar a organização secreta como uma rede de tráfico de crianças. Segundo Sommer, os menores seriam explorados sexualmente por homens poderosos e usados em rituais satânicos. O Estado profundo ainda estimularia a decadência da família tradicional para anestesiar moralmente a sociedade.

Para Klein e Sommer, o trumpismo —especialmente figuras como o diretor do FBI Kash Patel e a procuradora-geral Pam Bondi— surfou nessa teoria conspiratória que liga bilionários à promoção de valores sexuais decadentes. Mas o discurso deles mudou no último mês. Ao romper com o presidente, o bilionário Elon Musk publicou em sua rede social X: "Trump está nos arquivos de Epstein. Essa é a verdadeira razão pela qual eles não foram tornados públicos."

Para aprofundar a história de Epstein, o jornalista Ross Douthat entrevistou, em seu podcast Interesting Times, a repórter Julie K. Brown, que cobriu o caso pelo Miami Herald. Ela descreve como Epstein esteve à frente de uma rede de tráfico de mulheres jovens para homens ricos e famosos, e conclui que ele não agiu sozinho.

Epstein e Trump foram próximos por cerca de dez anos, até 2004. Trump chegou a dizer em vídeo que ele e Epstein gostavam de garotas —especialmente as mais novas. A imprensa voltou a debater essa amizade depois que o Wall Street Journal divulgou, na semana passada, o conteúdo de uma suposta mensagem de aniversário de Trump para Epstein, assinado, com o desenho feito à mão de uma mulher nua e frases enigmáticas como: "Um amigo é uma coisa maravilhosa. Feliz aniversário —e que cada dia seja mais um maravilhoso segredo."

Especialistas destacam como os apoiadores do QAnon viam Trump como o enviado de Deus para desmantelar o Estado profundo. A relutância do governo em divulgar os nomes dos possíveis cúmplices de Epstein provocou uma insurgência interna.

Essa narrativa do QAnon afeta a política brasileira. A ex-ministra Damares Alves mencionou o tráfico de crianças na Ilha de Marajó na véspera da última eleição presidencial. O filme "Som da Liberdade" (2023), sobre tráfico de crianças na Colômbia, fez sucesso no Brasil, promovido por igrejas evangélicas.

Se a polêmica continuar nos próximos meses, poderá prejudicar a imagem pública de Trump no Brasil e afetar a reputação de lideranças evangélicas que usam teorias conspiratórias com finalidade política.


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