terça-feira, 22 de julho de 2025

Nações podem aprender com o Pix, diz Nobel da Economia: ‘Brasil inventou o futuro do dinheiro?’, OESP

 O economista norte-americano Paul Krugman, vencedor do Nobel de Economia de 2008, publicou nesta terça-feira, 22, um artigo em que questiona se o Brasil “inventou o futuro do dinheiro” ao desenvolver o Pix, ferramenta de pagamento eletrônico instantâneo usada no País desde 2020.

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Apesar de não ser mencionado nominalmente, o Pix foi incluído no rol das investigações do governo dos Estados Unidos sobre práticas comerciais do Brasil. O documento sobre a investigação, publicado na terça-feira, 15, cita, entre outros pontos, “diversas práticas injustas” do Brasil para garantir vantagens ao “sistema de pagamentos eletrônico desenvolvido pelo governo”. Autoridades do governo brasileiro avaliam que a inclusão do Pix foi motivada por lobby das grandes bandeiras de cartão de crédito, Mastercard e Visa, e não deve avançar.

Em seu artigo, intitulado “O Brasil inventou o futuro do dinheiro?”, Krugman cita a aprovação na Câmara dos EUA de um projeto de lei que impediria o Federal Reserve de criar uma moeda digital do Banco Central (CBDC, na sigla em inglês), ou mesmo de estudar a ideia. “Por que os republicanos estão tão aterrorizados com a ideia de um CBDC que estão literalmente ordenando que o Fed pare de sequer pensar nisso?”, questiona o economista.

Pix foi incluído no rol das investigações do governo dos Estados Unidos sobre práticas comerciais do Brasil
Pix foi incluído no rol das investigações do governo dos Estados Unidos sobre práticas comerciais do Brasil  Foto: Adobe Stock

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Ele lembra, no texto, que já existe nos EUA, uma moeda digital do Banco Central usada por instituições financeiras. Elas podem transferir fundos entre si por meio de um sistema de pagamentos eletrônicos. “Por que facilidades semelhantes não deveriam ser disponibilizadas para pessoas físicas e empresas não financeiras?”, diz o economista.

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Segundo Krugman, os republicanos se opõem à ideia por se dizerem preocupados com a invasão de privacidade, pois um CBDC “abriria a porta para a vigilância generalizada do governo”, mas o que realmente temem é a “probabilidade de que muitas pessoas prefiram um CBDC a contas bancárias privadas”. “Qualquer tentativa de criar um CBDC completo enfrentaria uma oposição feroz do setor financeiro”, escreve.

O economista elogia, então, o Brasil. “A maioria das pessoas provavelmente não pensa no Brasil como um líder em inovação financeira. Mas a economia política do Brasil é claramente muito diferente da nossa — por exemplo, o país realmente leva a julgamento os ex-presidentes que tentam anular as eleições. E os grupos de interesse cujo poder, pelo menos por enquanto, torna impossível uma moeda digital nos EUA parecem ter muito menos influência no país”, afirma.

Ele lembra que o Brasil está, de fato, planejando criar uma moeda digital do Banco Central e que o primeiro passo para isso foi introduzir o Pix. “Pelo que entendi, o Pix é uma espécie de versão pública do Zelle, o sistema de pagamento operado por um consórcio de bancos privados dos EUA. Mas o Pix é muito mais fácil de usar. E, embora o Zelle seja grande, o Pix se tornou simplesmente enorme, sendo usado por 93% dos adultos brasileiros. Ele parece estar substituindo rapidamente tanto o dinheiro quanto os cartões”, afirma.

Com base em dados do FMI, Krugman lembra que um pagamento com Pix é “liquidado em três segundos, em média, contra dois dias para cartões de débito e 28 dias para cartões de crédito” e que “os custos de transação são baixos”.

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“As autoridades estabeleceram uma exigência para que o Pix seja gratuito para pessoas físicas, e o custo de uma transação de pagamento para empresas/comerciantes é de apenas 0,33% do valor da transação, contra 1,13% para cartões de débito e 2,34% para cartões de crédito”, escreve.

O economista questiona se os EUA terão um sistema do tipo Pix. “Não. Ou pelo menos não por um longo tempo.” Segundo ele, o setor financeiro dos EUA “tem poder demais e nunca permitiria que um sistema público competisse com seus produtos”. “De fato, o governo Trump sugere que a mera existência do Pix no Brasil constitui uma concorrência desleal para as empresas de cartões de crédito e débito dos EUA.”

O artigo também alega que a direita norte-americana está “firmemente comprometida com a visão de que o governo é sempre o problema, nunca a solução”. “Os republicanos nunca, jamais, admitirão que um sistema de pagamentos operado pelo governo possa ser melhor do que as alternativas do setor privado.”

Para o economista, outras nações “podem muito bem aprender com o sucesso do Brasil no desenvolvimento de um sistema de pagamento digital”. “Mas os Estados Unidos, provavelmente, continuarão presos a uma combinação de interesses particulares e fantasias criptográficas”, conclui.

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