O que está em jogo se nós, norte-americanos, continuarmos a permitir que um presidente superpoderoso e autoritário tome nossas liberdades? A maioria dos países hoje em dia enfrenta a mesma questão. O que está em jogo se os brasileiros continuarem a permitir que uma Suprema Corte superpoderosa e autoritária, muito semelhante à dos Estados Unidos, que recentemente tem permitido que nosso Estado, assim como o seu, tome as liberdades brasileiras?
Eis o que está em jogo. A política dos próximos 10, 20 ou 50 anos, e assim para sempre, será uma corrida entre o liberalismo de baixo para cima e o iliberalismo de cima para baixo. Daron Acemoglu e James Robinson sabiamente disseram isso em 2019, em seu livro "The Narrow Corridor". Mas no livro, assim como em todas as suas obras, eles abandonam o liberalismo e a liberdade adulta em favor do estatismo e de uma subordinação cada vez maior e infantil. Eles concedem a vitória na corrida ao Leviatã, e a chamam de liberdade.
Desde 1917 ou 1933, a política de cima para baixo tem vencido, isto é, mesmo entre pessoas que se autodenominam "liberais". Essa vitória tem razões, é claro, uma das quais foi a guerra total moderna possibilitada pela ciência, primeiro como tragédia em 1914 e 1939, e depois como várias farsas autoritárias baseadas no modelo da guerra: a Guerra contra os Comunistas Domésticos, a Guerra contra a Pobreza, a Guerra contra as Drogas, a Guerra contra a Covid-19 e agora a Guerra contra os Liberais. A guerra é a saúde do Estado, como Randolf Bourne observou a respeito dos EUA há um século e como Robert Higgs documentou em detalhe há meio século. E a saúde do Estado é a doença mortal da liberdade.
Outra razão da vitória de cima para baixo —embora não independente dos apelos à unidade contra o Inimigo, característicos das guerras— é uma deriva ideológica particular, possibilitada por certas tecnologias oriundas da ciência, desta vez da comunicação. Desde a década de 1930, pessoas comuns têm sido persuadidas pelo rádio e por boatos a se tornarem servas do topo.
O topo tem afirmado em alto e bom som, desde o Iluminismo, que só ele possui os meios científicos para reconstruir o mundo, de cima para baixo. Seus nomes, desde 1789, têm sido jacobinismo de esquerda, bonapartismo de direita, engenharia social comtiana, marxismo, neoliberalismo, fabianismo, social-democracia, bancos centrais, New Deal, ditadura do proletariado, fascismo, keynesianismo e política econômica. Seus nomes anteriores eram reis, senhores e pater familias. O liberalismo, em outras palavras, sempre foi atacado. A liberdade sempre foi uma visão minoritária, antes e agora.
As tecnologias científicas continuam se desenvolvendo, para a saúde material de todos nós, louvado seja Deus. No entanto, as tecnologias aumentaram a saúde política do Estado. As vergonhosas capitulações a Trump por parte dos mestres americanos da tecnologia, como Musk e Bezos, a hedionda vigilância exercida por Xi Jinping e até mesmo a bizarra proliferação de câmeras de vigilância no lar britânico das nossas liberdades são um mau presságio.
Se não tomarmos cuidado, elas poderão resultar no fim da liberdade que, desde 1776, confere à saúde material sua dignidade adulta, humana e espiritual.
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