Apesar dos bilhões de dólares investidos em dezenas de empresas que buscam retardar a morte, foi uma jovem cientista em Cingapura que fez a descoberta crucial.
Anissa Widjaja estava desenvolvendo um método para medir a quantidade de uma proteína chamada interleucina 11 (IL11) nos diversos tecidos de camundongos. Ao selecionar as amostras que iria utilizar, incluiu vários tecidos coletados de camundongos idosos. E levou um susto: em todos os tecidos dos idosos a IL11 estava presente em grande quantidade. Repetiu o experimento e confirmou a observação.
Foi aí que pensou, e se eu impedir o aumento da IL11 à medida que os camundongos envelhecem, o que acontece? Levou anos, mas agora ela e um grupo de colegas publicaram seus resultados: camundongos envelhecem mais lentamente e vivem mais.
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O interessante é que uma droga que inibe a ação da IL11 já foi descoberta e está sendo avaliada em testes clínicos, em seres humanos, para tratar um grupo de doenças relativamente raras (doenças fibro-inflamatórias). Agora basta repetir os testes avaliando seu efeito no envelhecimento humano. Se esses testes repetirem o que foi observado em camundongos, logo teremos uma droga que retarda nosso envelhecimento e prolonga nossa vida em 25%. Se hoje vivemos 80 anos, passaremos a viver 100.
A IL11 foi descoberta em 1980 e nos últimos quarenta anos foi determinado que ela está envolvida em diversos processos em nosso corpo. Ela tem um papel no processo de formação das células do tecido nervoso e do tecido adiposo. Ela ajuda na regulação do crescimento e reposição do tecido ósseo e na formação de plaquetas. Está envolvida na fixação do embrião no útero e na formação da placenta.
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Faz algum tempo que a IL11 vem sendo utilizada em pacientes que estão tratando câncer com quimioterapia. Nesses pacientes ela ajuda a recomposição da quantidade de plaquetas no sangue após a quimioterapia. Apesar de todas essas descobertas seu papel no envelhecimento não havia sido investigado.
Para inibir o aumento do IL11 e verificar seu efeito sobre o envelhecimento, os cientistas usaram dois métodos. O primeiro foi criar camundongos transgênicos em que os genes que codificam o IL11 foram removidos.
Esses animais pesam menos pois possuem menos tecido gorduroso, tem um fígado menor e possuem uma quantidade menor de gordura no sangue. Mas, eles possuem mais músculos e se locomovem de maneira semelhante aos camundongos normais. Eles também mostram menos sinais de perda de massa muscular e coordenação motora ao envelhecerem. Camundongos normais envelhecem por volta das 80 semanas de vida e começam a morrer. Os animais que não possuem IL11 vivem perfeitamente bem por um tempo 25% maior.
O problema com esse experimento é que o camundongo nunca chega a possuir IL11 no seu corpo, o que explica a pouca gordura e tamanho. Para evitar esse problema os cientistas diminuíram a quantidade de IL11 injetando anticorpos contra o IL11 em animais adultos e continuaram com o tratamento até a morte dos animais.
Nos animais tratados, quando comparados com os controles, os cientistas observaram ausência de obesidade, melhor controle do nível de glicemia, melhores níveis de colesterol, menos tremores, menor perda de massa muscular e o retardo no aparecimento de outras características típicas do envelhecimento. Esses animais também sobreviveram 25% mais que os controles.
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Todos esses experimentos demonstram que evitar o aumento do IL11, que ocorre ao longo da vida adulta, resulta em uma vida mais saudável e mais longa para os camundongos. Os cientistas acreditam que esse aumento na IL11 está relacionado com o aparecimento de diversos processos inflamatórios durante o envelhecimento, mediados pelo IL11. Eliminando o IL11 esses processos deixam de ocorrer, as doenças típicas do envelhecimento aparecem mais tarde e o camundongo vive mais.
Como uma droga capaz de diminuir a quantidade de IL11 em seres humanos já foi descoberta, é muito provável que ela seja testada em seres humanos nos próximos anos. Se for possível demonstrar que ela retarda o aparecimento das doenças típicas de pessoas idosas, é muito provável que ela venha a ser comercializada com esse fim muito antes de ser demonstrado que ela alonga a vida. E isso é bom, pois um estudo clínico desenhado para medir o alongamento da vida demora dezenas de anos para ser executado. Com um pouco de sorte talvez até eu possa me beneficiar dessa descoberta.
Mais informações: Inhibition of IL-11 signalling extends mammalian healthspan and lifespan. Nature 2024
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