Encerra-se neste domingo (28), no Memorial da Resistência, em São Paulo, a exposição "Mulheres em Luta!", que, desde outubro de 2023, comoveu os visitantes e os apresentou a uma mulher extraordinária: Inês Etienne Romeu (1942-2015). Inês foi militante de uma organização armada contra a ditadura militar. Presa pelos homens de Sérgio Fleury em 1971, foi torturada, estuprada e degradada de todas as formas. Tentou o suicídio quatro vezes no cativeiro e chegou a pesar 30 kg. Mas sobreviveu para descrever seu martírio, quem o infligiu, quando e onde, e ver suas denúncias corroboradas pela investigação. Inês, que conheci no Rio nos anos 1960 antes de tudo isso acontecer, foi a história viva do Brasil.
A exposição consta de fotos, documentos —como a carta de seus pais ao infame general Silvio Frota, ministro do Exército, pedindo o corpo da filha que julgavam morta— e um curta de 1974, "Inês", dirigido pela francesa Delphine Seyrig. Foi o filme que chamou a atenção internacional para ela, então presa em Bangu e condenada à prisão perpétua.
Inês foi libertada na anistia, em 1979. Filmada por Norma Bengell, pode ser vista deixando a penitenciária em direção aos amigos e parentes —olhando para frente, íntegra, sorrindo, batendo palmas. "Não devo chorar", ela disse, pouco antes de cruzar a porta. Inês poderia ter sido morta, mas nunca vencida.
Foi a única sobrevivente da Casa da Morte, um casarão de Petrópolis usado para a tortura. Nos intervalos das sevícias, fixou mentalmente os rostos, nomes, codinomes, traços físicos e mais detalhes dos 20 homens que a supliciaram, entre os quais oficiais do Exército. No futuro, seis deles seriam reconhecidos por ela.
A Inês devemos o conhecimento, localização e finalidade da Casa da Morte. Em troca, o Brasil deveria fazer desse endereço um lugar que nos alertasse para o que significa o Estado sem lei.
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