segunda-feira, 22 de julho de 2024

Revolta contra turistas, editorial FSP

 

Protesto contra o turismo em Barcelona (Espanha) - Emilio Morenatti/AP/picture alliance

Europeus estão se rebelando contra enxames de turistas em cidades como BarcelonaVenezaAtenas e Amsterdã. Nelas, moradores têm organizado protestos contra os visitantes estrangeiros. Na Espanha, pessoas de fora chegaram a ser recepcionadas por locais com "tiros" de pistolas de água.

Há algo de ludismo nesses movimentos. Eles obviamente não expulsarão os turistas e nem interessa aos países que isso ocorra. O velho continente é a região mais visitada do planeta. O setor de turismo representa 10% do PIB da União Europeia, chegando a incríveis 25% em países como a Croácia.

No entanto se o turismo gera enorme bônus, também produz alguns ônus, e a distribuição dos dois não é equânime. Quem se apropria da maior parte dos lucros são as companhias aéreas e marítimas e redes hoteleiras. Proprietários de imóveis para aluguel, donos de restaurantes e de outros comércios e serviços também faturam.

Já o cidadão comum, embora se beneficie indiretamente com o aumento da arrecadação de impostos, é quem enfrenta mais diretamente os efeitos negativos.

O mais importante deles é o fenômeno da gentrificação —uma inflação geograficamente localizada associada à chegada de pessoas com maior poder aquisitivo.

Em Barcelona, os aluguéis subiram 60% em dez anos. Há ainda impactos ecológicos (consumo de energia e água, geração de lixo) e até sobre o sossego público.

Porém, quaisquer que sejam os problemas, a resposta sensata não é atacar visitantes, mas regulação.

O desenho específico depende muito das condições locais, e há várias ferramentas que podem ser utilizadas. A mais óbvia são taxas ou licenças que limitem o número diário de turistas.

Regras mais rígidas para aluguéis de curta temporada, com maior tributação, podem ajudar a conter a especulação imobiliária. O risco neste caso é errar na dose e acabar criando um mercado negro, que só beneficiaria os ilegais.

A regulação existe justamente para lidar com situações de interesses conflitantes. Ela não elimina os desentendimentos, mas pode torná-los administráveis.

editoriais@grupofolha.com.br

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