Diante das imagens que nos chegam de Milwaukee, nos EUA, dando Donald Trump como já vitorioso nas eleições americanas, parece que logo veremos o fim da maior democracia do mundo. Não, não é um alarmismo simplório. Elas estão me fazendo perguntar se, por todos esses séculos, convivemos mesmo com a maior democracia do mundo ou com uma ilusão fabricada pelos próprios americanos.
O que significavam aqueles filmes de julgamento, em que a razão sempre triunfava sobre o obscurantismo e a mentira? Vide o jurado feito por Henry Fonda em "Doze Homens e uma Sentença" (1957), o velho professor por James Stewart em "Festim Diabólico" (1948), o advogado por Spencer Tracy em "O Vento Será Tua Herança" (1960) e muitos outros. Eram homens adultos, justos, lúcidos —pode-se imaginá-los em Milwaukee de chapéu de vaqueiro e apito na boca? Eram ficção ou tinham correspondentes na vida real?
Duke Ellington e Cole Porter estariam em Milwaukee? E Billie Holiday e Judy Garland? Bette Davis, Lauren Bacall, Jane Fonda? Fred Astaire, Cary Grant, Humphrey Bogart? Edgar Allan Poe, Mark Twain, Dorothy Parker? Não sei a filiação política da maioria deles, nem importa. Eram pessoas que admirávamos não só pelo talento, mas pela sensação de inteireza que transpiravam. Sabemos que existiram. Mas seriam amostras reais dos EUA ou uma casta, talvez até fabricada?
A dúvida agora é se, algum dia, os próprios EUA existiram. Ou se os EUA reais não seriam aquilo que Nova York e Los Angeles chamam de F.O.T, "flying over territory", o território que só serve para se passar por cima, de avião. O que nós, brasileiros, sabemos da gente que vive nesse imenso F.O.T. e que, pelo visto, está em massa em Milwaukee, apaixonada por Trump?
Eu me pergunto também se muitos americanos não se estarão fazendo essa mesma pergunta e suspeitando de que, até agora, viviam numa América do era uma vez.
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