Instado por um amigo, li "Jews Don´t Count" (judeus não contam), de David Baddiel. O livro, de 2021, é interessante, mas foi escrito e publicado na hora errada. Boa parte dos esforços do autor se destinam a flagrar casos de antissemitismo, que se tornaram muito mais frequentes e escancarados depois do ataque terrorista do Hamas de 7/10/23 e da subsequente guerra em Gaza, que vai deixando um número obsceno de civis palestinos mortos.
Nos EUA, tivemos a novela em torno de Harvard. Por aqui, houve a defesa que o petista José Genoino fez de um boicote a empresas de judeus. O suprassumo do antissemitismo é responsabilizar todos os judeus pelas ações de Israel. "Mutatis mutandis", seria como punir todos os brasileiros pelos ditos e feitos de Bolsonaro.
Sem tantos casos gritantes, Baddiel teve de buscar manifestações mais sutis. Gostei particularmente de sua investida sobre o universo do "casting’. Tente, nos dias de hoje, escalar um ator branco para representar personagem negro, ou um cis para fazer um trans, ou um não gay para viver um homossexual. A reação de indignação será imediata. Já pôr um ator não judeu para fazer papel de personagem judeu é não apenas aceitável como frequente.
Baddiel diz –e esse é um ponto que poderia ter desenvolvido mais— que seus comentários se restringem à relação dos chamados progressistas com os judeus. É a esquerda que, em sua opinião, vem se tornando cada vez mais antissemita. Em outros meios, encontraremos outros preconceitos. Em aeroportos e na mídia "mainstream", por exemplo, árabes e islâmicos é que tendem a ser o objeto de desconfiança.
Foi divertido ler "Jews..." (Baddiel é comediante), mas receio que ele não responda à pergunta fundamental. Como, em poucas décadas, judeus passaram, na visão dos ditos progressistas, de protótipo da minoria perseguida a odioso grupo opressor? Tenho algumas intuições, mas nada perto de uma resposta.
helio@uol.com.br
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