Na hora do desespero, o indefectível celular não resolveu o problema. Eles foram pedir ajuda através das grades, aos berros, para quem passava pela rua Voluntários da Pátria, em Botafogo, ou bebia num botequim do outro lado da calçada: "Estamos presos, esqueceram a gente trancada". Ou era uma pegadinha ou um golpe, pensaram aqueles que assistiam à cena.
Aconteceu no último sábado de janeiro, um pouco antes da meia-noite. Encerrada a última sessão, cerca de 40 espectadores que estavam no Estação Net Rio não conseguiram sair. "Socorro! Me tirem daqui!"
A primeira estranheza veio quando os créditos finais começaram a subir e as luzes da sala não se acenderam. Eles tiveram de descer as escadas tateando no escuro. Mas a surpresa maior foi encontrar a entrada do cinema fechada. Os funcionários haviam ido embora, acreditando que as projeções tinham acabado. Era como se o filme a que assistiram —"Os Rejeitados", uma comédia de Alexander Payne na qual um grupo de pessoas é obrigado, contra a vontade, a passar um longo período junto— continuasse na vida real.
As situações de confinamento são quase um subgênero cinematográfico. Mesmo numa reunião de não cinéfilos é fácil citar inúmeros títulos, de "Alien" a "O Iluminado". Um dos melhores filmes B de todos os tempos —"Assalto à 13ª DP", de John Carpenter— mostra que o lugar aparentemente mais seguro, uma delegacia, pode ser o mais perigoso e asfixiante. Em "O Anjo Exterminador", de Luis Buñuel, os personagens estão presos numa mansão; nada os impede de sair, mas eles não conseguem. Em "A Rosa Púrpura do Cairo", Woody Allen encontra a saída: pular da sala de cinema para dentro do filme.
A história dos 40 rejeitados de Botafogo —descoberta pelo repórter Gustavo Cunha e que viralizou nas redes sociais— revela uma boa nova. Os cinemas de rua, apesar das previsões catastróficas, ainda não acabaram.
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