Pesquisas recentes apontam a criminalidade como a principal preocupação dos brasileiros. O assunto está na mesa do bar, em discurso de campanha para vereador e na cabeça de todos os que já se viram de frente para o crime nas ruas da cidade.
Criminalidade pode afetar e ser afetada pela economia. Justamente por isso, é difícil estimar o que é causa e o que é efeito nessa relação.
Usando métodos estatísticos e criatividade, pesquisadores mostram que a causalidade vai nas duas direções.
Cruzando bases de dados de empregos formais e crimes, é possível ver se as pessoas que perdem emprego têm mais chances de cometer crimes. Não é simples e dá trabalho, mas podemos ver se existe essa associação nos dados.
O problema é que pessoas mais propensas a cometer crimes podem ter mais chances de perder o emprego. Vício em álcool e drogas e tendência para comportamento agressivo são exemplos de fatores que afetam as duas coisas. Assim, a simples correlação não nos permite responder à pergunta.
Em artigo publicado em 2022, com dados brasileiros, Diogo Britto, Paolo Pinotti e Breno Sampaio driblaram esse problema considerando pessoas que perderam o emprego em demissões em massa. Nesses casos, o desemprego é pouco associado às características da pessoa e mais associado à sorte ou à azar de estar em uma empresa ou setor que precisa demitir muita gente.
O trabalho deles comparou, usando técnicas estatísticas, pessoas que perdem o emprego em demissões em massa (o grupo de tratamento) com outras com características muito similares, mas que não foram demitidas (o grupo de controle).
O efeito encontrado é grande. Eles estimaram que o desemprego aumenta em 43% a chance de a pessoa cometer crimes com motivação econômica. O efeito em outros tipos de crime é menor, mas ainda razoável (cerca de 17%).
Eles ainda mostram que o seguro-desemprego mitiga o problema —mas só enquanto a pessoa ainda está recebendo o benefício.
Isso, claro, não quer dizer que eliminar períodos de recessão acabaria com a criminalidade. Precisamos de políticas públicas que enfrentem diretamente o crime e, em especial, o crime organizado.
Estima-se que o crime organizado movimente entre 2% e 5% do PIB mundial. Isso tem diversos impactos econômicos negativos. Em primeiro lugar, gastamos muitos recursos para combater o crime. Pessoas que poderiam estar produzindo vacinas ou sorvetes trabalham para combater organizações criminosas.
Além disso, o crime organizado estabelece laços corruptos com governos, distorce o funcionamento dos mercados e tem o potencial de reduzir a produtividade na economia. Esses efeitos, porém, são mais difíceis de mensurar.
Em outro artigo publicado em 2022, os italianos Mirenda, Mocetti e Rizzica estimam os efeitos da máfia na economia legal. Para isso, eles utilizam uma miríade de dados judiciais e econômicos para construir uma medida de infiltração do da ‘Ndrangheta, uma das grandes organizações criminosas do mundo, nas empresas italianas.
Eles mostram que a máfia leva a um aumento na receita das empresas com cara de lavagem de dinheiro, mas os resultados variam com o tipo de empresa. Por exemplo, no caso da construção civil, empresas infiltradas têm mais chance de ganhar contratos de obras públicas. Não deve ser porque a máfia aumenta a produtividade.
Empresas infiltradas também sofrem uma piora financeira substancial e têm mais chance de quebrar. A máfia parece ter um forte impacto negativo na economia.
Políticas públicas melhores para combater o crime trariam grandes benefícios a todos nós —inclusive econômicos.
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