A favela de Paraisópolis virou um bairro popular. Aquela ideia de lugar miserável com uma população sem direito à cidadania e sem lugar no mercado de consumo ficou para trás. O que se vê por lá hoje é um comércio pujante, ruas movimentadas com compradores vorazes e uma grande diversidade de produtos e serviços.
Com uma população de 40 mil habitantes, sem considerar suas áreas de influência, Paraisópolis tem 1180 estabelecimentos comerciais com CNPJ ativo e um potencial de consumo de R$ 666,7 milhões, segundo levantamento da Nós Pesquisa feito em 2023. Seus moradores são todos conectados e com conta bancária e a ideia de que se trata apenas de um bairro dormitório onde as pessoas só vão trabalhar nas casas ricas da vizinhança caiu por terra.
A própria favela se tornou um centro gerador de empregos e tem uma economia interna que garante o sustento e a prosperidade de boa parte de seus moradores.
"O potencial de consumo é o que a comunidade pode consumir, pode comprar, se tiver as condições necessárias e confiança na economia para usar seu crédito", diz Emília Rabello, diretora da Nós Pesquisa. "Não é que esse dinheiro circule na favela, mas é um cruzamento de renda familiar, grau de endividamento e empregabilidade. É o crédito que a comunidade tem e que pode ser usado."
Seja como for, Paraisópolis não está muito longe do seu potencial. Quem circula por uma de suas vias principais, a Rua Melchior Giola, vê um comércio robusto e organizado com os mesmos produtos que são encontrados em qualquer ambiente de compras na região central.
A mesma atividade intensa se percebe na Rua Pasquale Gallupi, onde há lojas de equipamentos eletrônicos, salões de beleza e bares e restaurantes de padrão da classe média. Nessa rua funciona o Belezinha, startup que forma profissionais para trabalharem em salões de beleza ou criarem seu próprio negócio.
Uma pesquisa feita em 2021 mostrava que 26% dos estabelecimentos de Paraisópolis eram bares, lanchonetes e restaurantes, 15%, lojas de roupa, 14%, mercados e supermercados e 13%, salões de beleza. A favela conta também com quatro agências bancárias e 14 escolas, sendo uma escola técnica (ETEC). Tem inclusive empresas de logística, como a startup Favela Brasil Xpress, que distribui mercadorias em Paraisópolis e em outras seis favelas.
Cada um dos estabelecimentos da comunidade com CNPJ, segundo Rabello, sustenta em média dez pessoas, o que significa que atualmente mais de 10 mil pessoas, um quarto da população total, tiram seu ganha-pão do lugar onde moram. "Se considerarmos que a favela é um espaço de informalidade, esse número explode", diz.
Segundo o levantamento da Nós Pesquisa, Paraisópolis tem 14.433 domicílios e a renda familiar média da população local é de R$ 3.004,00. A Imensa maioria dos domicílios (8187) pertence à classe C, com rendimento mensal de 4 a 10 salários mínimos. Outros 2015 domicílios são da classe A/B, 414 da classe D e 3817 da E. "É preciso tirar da cabeça a ideia de que nas favelas não existe mercado consumidor", afirma Rabello. "Não só existe, como é bastante vigoroso."
Paraisópolis, que completou 100 anos em 2021, é a segunda maior favela de São Paulo, só superada por Heliópolis. Vive problemas típicos de comunidades carentes, mas mostra recursos de sobra para se integrar na nova economia e gerar riqueza. Seu potencial de desenvolvimento e de criação de negócios só ganhou força nos últimos anos. A comunidade tem conseguido resolver muitos problemas com persistência e criatividade. Há muito tempo deixou de ser um lugar de miséria.
Apesar da disparidade social em relação aos bairros vizinhos, especialmente ao Morumbi, Paraisópolis revela grande vitalidade e o que falta mesmo hoje em dia é uma maior presença do Estado na prestação de serviços básicos. Falta coleta de lixo, por exemplo, e rede de água e esgoto para toda a comunidade – ainda há locais na favela desprovidos desses serviços. Mas a população local tem mostrado força suficiente para driblar os infortúnios.
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