As palavras, coitadas, não têm como se defender. Existem para ser usadas e não podem impedir que energúmenos as torturem em palanques, obrigando-as a dizer o contrário do que significam. Foi assim no domingo (25) quando Bolsonaro, a bordo de uma caçamba na avenida Paulista, bradou mais uma vez atuar "dentro das quatro linhas da Constituição", defender o "estado democrático de direito" e lutar pela "nossa liberdade".
Suas quatro linhas estão a léguas das preconizadas pela Constituição ---que ele nunca abriu em dias de sua vida. Quanto ao dito estado democrático, não será o que ele levou anos solapando, corrompendo militares, autoridades e agentes da lei para se eternizar no poder. E a liberdade refere-se à dele, ao pedir anistia para os "pobres coitados" que induziu ao 8/1 em Brasília, sabendo que, se ela vier, o livrará das grades. Típico também de Bolsonaro jogar a culpa pelo 8/1 nos "pobres coitados", insinuando que eles fizeram aquelas barbaridades por si próprios.
É intrigante saber que, pelas pesquisas, eram católicos 43% dos presentes ao ato convocado por um pastor, o notório Silas Malafaia, e estrelado pela profetisa do apocalipse Michelle Bolsonaro, contra apenas 29% de evangélicos propriamente ditos.
E mais pândego ainda ouvir seus seguidores entoarem o explosivo hino da esquerda brasileira, "Caminhando (Para Não Dizer que Não Falei das Flores"), de Geraldo Vandré, que levantou o Maracanãzinho num festival em 1968, em protesto contra a ditadura que Bolsonaro defende. Nada enfurecia mais os militares daquela época do que os versos "Há soldados armados, amados ou não/ Quase todos perdidos de armas na mão/ Nos quartéis lhes ensinam uma velha lição/ De morrer pela pátria e viver sem razão." Exceto Bolsonaro, que sabia muito bem, alguém na Paulista entendia o que estava cantando?
Ah, agora já sei! Eram os bolsonaristas de esquerda.
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