A economia é uma ciência bem mais ampla do que parece à primeira vista. Os economistas, muito influenciados pelo ganhador do Nobel de Economia Gary Becker, utilizam o método econômico para estudar o comportamento humano aplicado aos mais variados assuntos, como crime, educação, família, discriminação e determinantes de desigualdades.
Por que é importante estudar a família como unidade econômica? Porque dentro da família são decididas questões como investimento em capital humano, consumo, oferta de trabalho, fecundidade, entre outros.
Na maioria das vezes, os agentes decidem suas ações levando em consideração os outros membros da família. Nesse sentido, a abordagem econômica permite que os cientistas estudem o comportamento dos membros das famílias quando estes buscam otimizar seu bem-estar e consumo considerando as restrições a que estão sujeitos, isto é, restrições orçamentária e de alocação do tempo. Assim, a formação da família, seja ela formal ou informal, é a mola propulsora de decisões com impactos econômicos relevantes. Ademais, essa unidade econômica funciona como produtora de bens e serviços para si e para a sociedade.
Os benefícios do casamento são amplos. O pagamento de um aluguel, o seguro contra desemprego (a chance de ambos estarem desempregados ao mesmo tempo é menor), os benefícios em planos de seguro-saúde e as tarefas domésticas (como cozinhar e limpar), por exemplo, podem ser divididos por dois. Da união de duas pessoas, é possível contabilizar ganhos de cooperação dos membros da família. Contudo, conflitos de como distribuir esses ganhos podem surgir.
A cooperação ocorre na divisão de tarefas entre os membros para otimizar a produção de bens e serviços. É desse contrato implícito que surgem, muitas vezes, as diferenças de gênero e a divisão sexual do trabalho. Historicamente, observamos que os homens alocam mais tempo no mercado de trabalho, e as mulheres dividem a alocação do seu tempo entre mercado de trabalho e trabalho não pago (cuidados com a família).
Uma outra decisão no âmbito familiar é como se dará a distribuição dos bens e serviços produzidos. Qual será a parcela desse ganho para cada membro da família? É o poder de barganha que determinará essa divisão e ele depende de um conjunto de fatores.
A literatura econômica traz luz a essas questões mostrando que a divisão dos ganhos do casamento depende, muitas vezes, da razão entre homens e mulheres, de quem tem maior participação na renda familiar, das leis de divórcio e guarda dos filhos, entre outros. Estudos mostram que o pagamento de programas de transferência de renda, como Bolsa Família, para as mulheres, aumenta seu poder de barganha, inclusive com efeitos positivos sobre a nutrição dos filhos. Na China, a política do filho único levou a um aumento da razão entre homens e mulheres, aumentando o poder de barganha feminino.
A dinâmica da formação da família e as decisões intrafamiliares são muito mais complexas do que parecem, assim como suas consequências. A queda na taxa de natalidade, que observamos há algum tempo em diversos países, inclusive no Brasil, tem uma relação direta na forma como as famílias dividem o tempo entre trabalho e cuidados. Como os cuidados dos filhos recaem majoritariamente sobre as mulheres, elas estão postergando a maternidade, tendo menos filhos ou optando por não tê-los. As consequências são sentidas na demografia, no crescimento econômico e na sustentabilidade da previdência.
Dentre essas e outras razões, é por isso que os economistas têm cada vez mais se debruçado para entender a dinâmica familiar.
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