Vamos analisar os condicionantes da decisão que o Conselho Monetário Nacional (CMN) terá que tomar acerca da meta de inflação de 2026. Vejamos alguns pontos: i) a inflação em 12 meses chegou a ser de 12% no segundo trimestre de 2022; ii) é razoável que o processo de desinflação se processe a uma velocidade algo diferente que aquela inicialmente prevista há dois anos; iii) reduzir a inflação dos 6% previstos para 2023 para os 3% da meta de 2024 em apenas um ano seria um desafio expressivo; iv) há um debate, no mundo, em função da elevada inflação recente, acerca de se a inflação a ser perseguida no longo prazo nos países desenvolvidos deveria ser de 2% ou de 3%; v) é natural que a meta de inflação nos países emergentes seja ligeiramente superior (sugere-se 1% superior) à dos países desenvolvidos; e, vi) em dezembro, a inflação esperada pelo mercado para 2025 era de 3% e ela passou para 4%, porque o mercado se convenceu de que o governo iria aumentar a meta.
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Desse conjunto de pontos é possível depreender que pode fazer sentido mudar ligeiramente as metas de inflação de 2024 e 2025, desde que se perceba que aumentar excessivamente a meta desancorando as expectativas, fazendo com que o mercado pense que a elevação do alvo será seguida pelo aumento da expectativa de inflação, com risco de elevações posteriores da meta, seria um desastre e colocaria em xeque um esforço de três décadas de conquista da estabilidade de preços.
Nesse contexto, sugere-se que o CMN adote as seguintes decisões: meta de inflação de 3,25% para 2026; e, diante disso, redefinição das metas de 2024 e 2025 para 3,75% e 3,5%, respectivamente.
Isso permitiria alcançar três objetivos: i) pavimentar o terreno para uma flexibilização gradual da política monetária; ii) sinalizar com uma continuidade da desinflação para o triênio 2024/2026; e iii) permitir que a decisão acerca da inflação a ser perseguida em prazos mais longos seja tomada no futuro, depois de ficar nítido como ficará o mundo após as turbulências de 2020/2023.
Essa iniciativa, combinada com a aprovação do arcabouço fiscal e com uma inequívoca sinalização do presidente Lula da Silva de respaldo ao Banco Central e de que ele estará firmemente comprometido com essa estratégia, permitiria reancorar as expectativas, de modo a que elas convirjam para 3,5% em 2025 e 3,25% em 2026. Se assim for, o CMN terá feito um gol, e Lula e Roberto Campos Neto terão alcançado um modus vivendi razoável. Que assim seja.
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