O filósofo Cornel West afirma haver um sofrimento específico ligado à população negra em decorrência do racismo, tanto no Brasil como nos EUA —o tom da pele, se preto escuro ou marrom claro, influenciará o tipo de preconceito que o indivíduo negro sofrerá. Mas salienta que a luta é principalmente de classe.
"Temos que falar da população negra e das pessoas pobres", diz o também professor e ativista americano.
Em aula exibida nesta quinta-feira (4), promovida pelo Instituto Conhecimento Liberta, uma plataforma de cursos online, West, um dos principais nomes do debate racial dos Estados Unidos, destacou a importância de lutar por mais direitos para trabalhadores em geral, independentemente da cor da pele.
Para tal, citou como exemplo a campanha presidencial do republicano Donald Trump, que mirou os chamados "colarinhos azuis", como são conhecidos os trabalhadores braçais e de indústrias nos EUA.
"Uma parte significativa do programa neofascista de Trump apela para os pobres e para os trabalhadores, porque eles se sentem descartados. E eles foram de fato prejudicados na estratégia de globalização corporativa. São tão preciosos quanto qualquer outra pessoa na humanidade", diz o filósofo. Assim, para ele, o progresso racial ocorrerá com a ascensão de pessoas pobres, não só de negros, a cargos de poder.
Numa das últimas vezes em que West esteve nos holofotes da mídia, ele disputava na Universidade Harvard, onde lecionava, o cargo de professor titular. Era a segunda vez que passava pela instituição.
Na primeira, abandonou Harvard após problemas com seu presidente. A segunda saída se deu quando a universidade não atendeu à orientação de um comitê para que ele fosse novamente titular, cargo que já havia alcançado anos antes, quando deu aulas na instituição pela primeira vez. À época, a postura jogou luz sobre o debate em torno de como as faculdades americanas, especialmente as da Ivy League, a elite universitária dos EUA, não costumavam alçar professores negros e latinos ao cargo mais alto da docência.
Para o filósofo, compreender os desafios impostos pela chamada "supremacia branca" contra negros, indígenas e asiáticos requer entender o papel que eles desempenham sobre os trabalhadores brancos.
"Vemos as elites neoliberais no setor financeiro [americano] com um poder desproporcional sobre os políticos, promovendo políticas que devastaram os trabalhadores e marginalizam os pobres. Elas muitas vezes colocam trabalhadores negros pobres contra trabalhadores brancos pobres, contra pardos. Precisamos de solidariedade. Precisamos mais de solidariedade do que de identidade", afirma ele.
West é conhecido por sua fé cristã e ativismo, com falas muitas vezes vistas como combativas —algumas delas já geraram desconforto entre membros do próprio movimento negro americano. Um exemplo é seu histórico com o ex-presidente Barack Obama. Embora tenha apoiado com vigor a eleição do democrata, o filósofo o chamou de covarde e mascote de Wall Street ao se decepcionar com sua atuação em relação à população negra, além de classificar de neoliberal a equipe econômica do então chefe da Casa Branca.
Outras manifestações do professor incluem o desejo de dar um tapa na cabeça de Obama –algo não muito bem recebido por intelectuais e ativistas negros americanos, principalmente por envolver violência.
Ainda assim, muitos se identificam com a decepção de West em relação ao democrata, que deixou o poder visto como um presidente que fez menos do que poderia para diminuir a desigualdade racial no país.
Suas falas com frequência se aliam à sua fé. Ele diz se ver como um profeta, às vezes mais do que como professor. Já afirmou buscar ser como Jesus –um anseio entre protestantes. O compromisso com a fé aparece em suas idas e vindas ao Union Theological Seminary, onde é professor e atuou pela primeira vez há mais de 40 anos. Lá, ministra cursos de filosofia da religião e pensamento crítico afroamericano.
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