Hoje vou atacar de ombudsman do jornal. Entrarei na seara de meu colega José Henrique Mariante.
Na quarta-feira (1º), o IBGE divulgou o resultado da atividade econômica relativa ao segundo trimestre. O número, crescimento de -0,1% ante o primeiro trimestre, veio abaixo da expectativa de mercado.
Na capa da Folha de quinta-feira (2) passada havia um gráfico comparando o Brasil com outros 29 países. Tivemos o pior desempenho. Será que o gráfico nos ajuda a entender como tem se comportado a economia brasileira em comparação com as demais? Penso que não.
A segunda onda ainda estava muito forte no início do segundo trimestre e, portanto, um resultado pior do que o esperado era normal. A epidemia, um fenômeno global, apresenta dinâmicas específicas em cada país em um dado momento.
A diferença entre os gráficos, daqui e o da capa da edição de quinta-feira, além de haver um país a mais aqui, é a base de comparação. Eu considerei o último trimestre antes da epidemia, o 4º trimestre de 2019, como base, e a reportagem de quinta-feira, o trimestre anterior, isto é, o 1º trimestre de 2021.
A base escolhida por mim é mais adequada para comparar o desempenho econômico na pandemia de diversos países.
A mensagem é muito diferente da informação da capa do jornal. Como em geral acontece, o Brasil se casou com a mediocridade. Mas não somos o pior caso. Longe disso. Há 16 países piores e 14 melhores.
A economia ainda não superou as dificuldades com a epidemia. Outros serviços, um subsetor dos serviços que representa 15% da economia e 34% do emprego, ainda roda 7,2% abaixo do nível pré-epidemia, e os serviços da administração pública, que também representam 15% da economia, operam 4,5% abaixo. A normalização de ambos nos próximos trimestres adicionará 1,8 ponto percentual na economia. Sobrará um resto da recuperação para melhorar um pouco os números de 2022.
Mudando de tema, no domingo passado (29) uma longa reportagem de Fernanda Mena à página A20 da Folha discutiu o importante tema da contagem dos anos das mulheres para efeito da aposentadoria. Mães muitas vezes largam o trabalho para cuidar dos filhos. Na Argentina, há a possibilidade de as mães acrescentarem de um a três anos por filho, segundo a reportagem, na contagem do tempo de contribuição para a previdência. Medida análoga ocorre no Uruguai.
Faltou a reportagem lembrar que esse benefício, de certa forma, já existe. As mulheres podem requerer o benefício cinco anos antes do que os homens. Como a expectativa de vida das mulheres aos 60 anos é 2,5 anos superior à dos homens, as mulheres usufruirão do benefício previdenciário por 7,5 anos a mais.
Iria escrever sobre a reforma do Imposto de Renda aprovada na Câmara na semana passada. Sempre me pronunciei favorável a medidas que elevem a progressividade dos impostos de renda no Brasil. Sabe-se que, nas altíssimas rendas —a partir do 0,5% mais rico—, o Imposto de Renda, considerando a renda do capital, é regressivo. A reforma aprovada não corrige essa distorção. Teria sido melhor nada aprovar.
Mais um caso, como ocorreu com a privatização da Eletrobras, em que a reforma piorou o ambiente de negócios. Remeto o leitor à corretíssima análise de Vanessa Canado nesta Folha.
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