Os longos meses percorridos desde março de 2020 foram dolorosos, dedicados ao enfrentamento de uma inesperada e devastadora pandemia que exigiu respostas inéditas para a contenção de seus efeitos sociais, econômicos e sanitários.
Ao longo deste período, aperfeiçoaram-se os estímulos destinados a salvar os empregos e o tecido produtivo, com mitigação do estrago previsto inicialmente. As empresas também aprenderam a adaptar seus processos produtivos e protocolos de funcionamento. O resultado foi a queda do PIB em 2020 de cerca de metade do previsto, além de uma recuperação econômica robusta e disseminada setorialmente.
A retomada do emprego tem sido gradual, mas contínua. PNAD e Caged, com seus vieses inevitáveis pela pandemia, mostram a recuperação do mercado de trabalho, ainda num quadro grave. Com enfoques distintos, são pesquisas complementares para entendermos a evolução do emprego (formal e informal) e da renda.
Sabia-se que a Covid-19 traria desafios para a aferição das estatísticas econômicas e sociais: a dificuldade/impossibilidade da coleta presencial de informações, o tratamento dos dados para os efeitos de um choque tão atípico e o possível atraso do repasse de informações pelas empresas, entre outros. Foi assim mundo afora. Não haveria de ser diferente aqui.
Mas, ao contrário do que vimos em outros órgãos e ministérios, a resposta do IBGE às dificuldades foi célere, hábil e marcada por sua reconhecida competência. Apenas um exemplo: em março de 2020, a OMS declarou oficialmente a situação pandêmica; em maio daquele ano, o IBGE já implementava a PNAD-Covid, para aferir informações sobre saúde, emprego e renda. Nosso voo em 2020 teria sido bem mais cego sem essa valiosa contribuição.
O IBGE serviu a governos de diferentes partidos, sempre prezando pela lisura, seriedade e qualidade técnica das informações que apura. Utiliza metodologias de padrões internacionais e é mundialmente reconhecido pela qualidade de seus técnicos e pesquisas. Se estas puderem ser ainda mais modernas, cabe a quem controla o IBGE --o Ministério da Economia-- avaliar e propor os aperfeiçoamentos necessários para que o instituto atinja o "estado da arte", inclusive no aspecto orçamentário.
São por essas e outras (tantas) razões que causa espanto a declaração desinformada do ministro Guedes. Torço para que tenha sido um infeliz lapso verbal, não uma adesão aos lamentáveis cacoetes presidenciais de promoção do descrédito de instituições do Estado brasileiro.
Lamento profundamente a perda de um dos maiores filósofos brasileiros, José Arthur Giannotti. Minha solidariedade à família.
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