Leitores desta coluna no domingo último (“Verbosismo passadista”, 30/5) atribuíram à “juventude” de Oswald de Andrade o dilúvio de adjetivos e patriotices numa ode a Rui Barbosa, escrita e lida por ele no Centro Acadêmico 11 de Agosto em 1919. Jovem? Oswald já tinha ali 29 anos. Rui, acredite ou não, era uma de suas ardentes admirações assim como Olavo Bilac, que morrera meses antes. Eis mais alguns trechos de seu discurso:
“A Faculdade de Direito de São Paulo é uma tradição que constrói tradições. Sob o ajardinamento impassível deste vale existe, pulsa, canta e corre o seu pequeno curso fecundo, esse riacho do Anhangabaú cujo batismo secular acompanha a cidade com a bênção longínqua dos seus primeiros moradores. E a semente que Rui Barbosa deixou em terra paulista ficará, invisível como o rio, sugestiva, entranhada, murmurante, prenhe de germens e de imortalidades.
“No pátio da tradição, nas salas frias das aulas ou no tumulto dos corredores, formando partidos, dividindo-se em grupos, criando chefes e programas —numa ideia e num estremecimento, os estudantes confraternizavam. Era na aclamação à Pátria, que Bilac ensinara do seu púlpito de apóstolo.
“Pátria! Entre arvoredos uma casa, um pedaço de chão e o céu alto de promessas! Esbatida essa visão por 8 milhões de quilômetros de país, conquistados, forçados por um punhado de brancos, que haviam em séculos de pertinácia transposto oceanos inéditos e partido depois na escalada rude das serras de mistério, em tardes de cor nova e madrugadas impossíveis —era a Pátria bem ganha e, portanto, a Pátria a ser completada, defendida e carregada nos nossos mais íntimos sacrários.” Etc.
No Rio, naquele mesmo 1919, João do Rio, Lima Barreto, Manuel Bandeira, Agrippino Grieco, Orestes Barbosa e outros já pensavam e escreviam de forma adulta, em brasileiro e... moderna. Não estavam esperando por 1922.
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