Acaba de sair nos Estados Unidos uma biografia do professor Thomas Sowell. Coincide com seu 90º aniversário e é pedestre, mas conta uma grande vida.
Sowell nasceu numa casa que não tinha água encanada nem eletricidade e foi criado por uma tia-avó no Harlem de Nova York. Ralou na pobreza e alistou-se no Corpo de Fuzileiros. Na juventude não podia sentar-se em mesas de brancos nos restaurantes e foi marxista. Diplomou-se por Harvard aos 28 anos e dez anos depois doutorou-se pela Universidade de Chicago, debaixo das asas dos economistas Milton Friedman e George Stigler. Ambos recomendaram-no para uma bolsa de estudos argumentando que ele era socialista, "porém muito esperto para continuar assim por muito tempo".
Na mosca. Sowell tornou-se uma espécie de Cão da Terceira Hora do conservadorismo político e econômico. Contesta a eficácia das políticas afirmativas, das cotas aos estímulos à diversidade. A seu juízo, a eleição de Joe Biden pode vir a representar o início da decadência do Império Americano.
A migração de Sowell teve duas vertentes. Numa esteve o respeito aos números: "Quando você percebe a importância dos fatos, o jogo é outro". Noutra, ficou longe do poder. Não é à toa que a biografia chama-se "Maverick", algo como "dissidente", numa tradução neutra, ou "porra-louca", em versão maligna. Afinal, um negro saído da pobreza não deveria ser conservador, muito menos intransigente.
Milton Friedman teve a coragem de dizer que "a palavra 'gênio' tem sido tão esbanjada que perdeu o sentido, mas eu acho que Tom Sowell está perto de ser um deles".
Com 36 livros publicados e centenas de artigos, Sowell celebrizou-se pela clareza de seus raciocínios. Um exemplo, tirado da sua análise do colapso das economias do finado mundo socialista: "O sistema tinha um problema inerente de conhecimento. Em poucas palavras: quem tinha poder não tinha conhecimento e quem tinha conhecimento não tinha poder".
Esse diagnóstico vale para o meio onde Paulo Guedes se meteu.
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