Ser mulher não é fácil. Entre humanos, a gravidez é uma condição muito mais perigosa do que entre outras espécies de mamíferos. Há um fascinante debate científico ainda sem conclusão clara sobre as razões para essa maior vulnerabilidade.
Em tempos normais, morrem em nosso planeta cerca de 800 mulheres por dia devido a complicações da gestação e do parto, sem mencionar outros agravos à saúde. A boa notícia é, ou melhor, era, que esse número vinha caindo. Do início do milênio até 2017, houve uma redução de 38% nos óbitos maternos.
A pandemia de Covid-19 mudou isso. E mudou tão dramaticamente que o professor de ginecologia e genética médica Thomaz Gollop, que me chamou a atenção para o problema, recomenda às mulheres que não engravidem até segunda ordem.
Uma revisão sistemática de 40 estudos feitos em 17 países envolvendo mais de 6 milhões de gravidezes, publicada há pouco em “Lancet Global Health”, associou a pandemia a aumento das mortes maternas, fetais, gravidezes ectópicas e episódios de depressão. Os óbitos fetais cresceram 28% em relação ao período pré-pandêmico, os maternos, nos dois países em que foi feita a análise, México e Índia, tiveram majoração de 37%. As ectópicas subiram quase 600%.
Os autores excluíram estudos que tratavam só de grávidas acometidas pelo Sars-CoV-2. Isso significa que a revisão mede principalmente os efeitos indiretos da pandemia, provocados pela saturação dos sistemas de saúde e pela pior aderência das parturientes ao pré-natal.
É aí que entra a segunda parte do problema. Grávidas são, de um modo geral, mais suscetíveis a uma série de doenças. De forma até surpreendente, porém, na primeira onda da Covid-19, elas não foram apontadas como um grupo que causasse especial preocupação. Agora, na segunda onda, talvez por causa das variantes virais, grávidas estão se tornando uma presença cada vez mais perturbadora nas UTIs.
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