Se tudo der muito certo, o que é improvável, o Brasil conseguirá vacinar toda a sua população-alvo contra a Covid-19 perto do final deste ano. Países mais organizados e menos populosos podem lograr esse feito em prazos menores, mas, mesmo assim, serão meses.
Não surpreende, portanto, que já haja nações adotando certificados de vacinação como pré-requisito para permitir que cidadãos participem de atividades coletivas não essenciais, como frequentar bares, estádios, cinemas etc.
Não é difícil vislumbrar a injustiça intrínseca da proposta. O governo estaria criando duas classes de cidadãos, uns com mais, outros com menos direitos, com base num critério, a vacinação, à qual nem todos tiveram acesso. Há também dúvidas quanto à eficácia da medida, já que estar vacinado não é garantia de que o indivíduo não transmita a doença, especialmente diante das novas variantes do vírus que estão emergindo.
São objeções que merecem séria consideração, mas não argumentos definitivos. À primeira delas podemos contrapor que também seria uma injustiça prolongar, em nome da ideia abstrata de não cometer injustiça, a crise no setor de serviços e entretenimento, quando já haveria condições razoavelmente seguras de retomar essas atividades, ainda que apenas para parte da população.
A questão da eficácia também é relativa. Segurança absoluta existe apenas para quem embarcou num longo voo espacial antes da pandemia. Para os demais o que temos é redução do risco. E, por tudo o que sabemos de vacinas, não há muita dúvida de que uma pessoa que foi imunizada tem menor probabilidade de desenvolver e de transmitir a doença do que uma que não o foi.
Reconheço que é tudo muito difícil e sujeito a incertezas, mas acho que, como diretriz geral, deve prevalecer a ideia de que só devemos criar restrições que sejam absolutamente indispensáveis e relaxá-las à medida que vão deixando de sê-lo.
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