Precisamos refundar o Brasil, defendeu neste espaço o presidente da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), Paulo Solmucci, no artigo “Lição de Tóquio para São Paulo e o Brasil” (9.fev.21). Concordamos. Seus argumentos, contudo, beiram a ingenuidade intelectual, colocando a categoria que representa próxima ao populismo.
Rasa, a proposta de refundação do país usa como parâmetro as diferenças de gestão da crise da Covid-19 entre o governador João Doria (PDSB-SP) e a governadora de Tóquio(Japão), Yuriko Koike. Perde o fôlego, logo de início, ao elencar aspectos culturais, legais e econômicos dos dois países.
Por uma questão de delicadeza e respeito, não avaliaremos o trabalho da governadora Yuriko Koike. São Paulo e Japão têm uma história secular de amizade que não se presta ao uso amesquinhado.
Desde o início da pandemia o estado de São Paulo se mantém firme e coerente, com decisões baseadas na ciência. O foco é preservar vidas, evitar o colapso e voltar ao normal.
São Paulo investiu nas soluções mais racionais e possíveis. Nove de cada dez vacinas contra a Covid-19 aplicadas no Brasil saem do Instituto Butantan. Para os negacionistas isso não tem valor, o que expõe a inaptidão e irresponsabilidade dos argumentos. A preocupação com a autossuficiência vacinal sequer foi lembrada pelo presidente da Abrasel.
Diferente do aventado, as atividades econômicas foram preservadas ao máximo, considerando, sempre, suas peculiaridades e riscos. Indústria e construção civil, por exemplo, não pararam.
Outras, com maior interação humana, tiveram restrições parciais, momentâneas e necessárias, revistas sempre que fosse seguro. Bares e restaurantes, em grande parte, estão funcionando até as 22h, resultado da última revisão.
A gestão cuidadosa, incluindo o acompanhamento de perto das atividades econômicas, tem se mostrado correta, salvado vidas e apresentado resultados. Enquanto se prevê uma queda de mais de 4% no Produto Interno Bruto do Brasil, em São Paulo a expectativa é de crescimento de 0,3% no fechamento de 2020. No segundo semestre do ano passado, o estado empreendeu uma reforma administrativa, modernizou sua máquina e se preparou para investir e voltar a crescer em 2021.
Os palpites do presidente da Abrasel revelam sua verdadeira intenção: fazer proselitismo político com as dificuldades de quem tem a obrigação de decidir com responsabilidade. Sobre o aumento de impostos, trata-se da diminuição temporária de benefícios, parte de um esforço coletivo para mantermos a saúde e o dinamismo econômico para a retomada do desenvolvimento.
Se o estado se sair mal, prejudica todo o Brasil. Não é o que está acontecendo. Os hospitais paulistas têm pacientes de todo o país, as vacinas se espalham e existe diálogo com as entidades representativas. Desde o início da pandemia, construímos protocolos e negociamos pacotes de ajuda.
São Paulo busca fazer a sua parte. Fomos o maior repassador de crédito em linhas federais emergenciais do Brasil. Como se vê, ao querer ser crítico, o presidente da Abrasel não é sequer construtivo. Feitos os contrapontos, o que sobra é um panfleto.
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