A pressão da alta dos preços de matérias-primas para a construção civil já teve efeito sobre o lançamento de imóveis no fim do ano passado e coloca em risco neste ano as obras do Casa Verde e Amarela, programa habitacional que substituiu o Minha Casa, Minha Vida.
A avaliação foi feita nesta segunda (22) representantes da Cbic (Câmara Brasileira da Indústria da Construção).
Historicamente, o segmento econômico representa mais da metade dos imóveis negociados no país por ter um mercado consumidor maior. No último trimestre do ano passado, porém, esses empreendimentos foram menos da metade dos lançamentos e das vendas pela primeira vez em três anos.
A habitação popular respondeu por 47,1% das 61,2 mil unidades lançadas em 150 cidades e regiões metropolitanas analisadas pelo setor. Nas vendas, o Casa Verde Amarela representou 48,6% dos 57,9 mil imóveis comercializados.
Os financiamentos com recursos do FGTS (Fundo de Garantia do Tempo Serviço), voltados a imóveis mais baratos, tiveram queda de 5% no ano passado, enquanto o crédito via SBPE, que usa a poupança e atende sobretudo o segmento de médio e alto padrão, cresceu 58%.
No balanço anual, o setor fechou com queda de 17,8% nos lançamentos e alta de 9,8% nas vendas. O descompasso dos dois indicadores e o encolhimento do Casa Verde e Amarela são atribuídos ao descolamento dos preços de insumos.
Celso Petrucci, vice-presidente da Cbic, diz que além do custo maior, as empresas têm dificuldades em repassar os aumentos. “Será que se eu aumentar [o preço], ainda vou conseguir colocar o imóvel no bolso do consumidor?”, questiona.
Os construtores afirmam ainda que problemas com prazos de entrega, registrados no segundo semestre de 2020, persistem.
Segundo José Carlos Martins, presidente da Cbic, aço, cimento, tubos de PVC e fios de cobre são os produtos que reúnem o maior número de relatos de escassez e preços altos. “É muito complicado fazer um lançamento, assumir uma obra que vai levar três anos, sem saber se vai ser possível cumprir o cronograma”, disse.
Nesta semana, a câmara da indústria terá reuniões nos ministérios da Economia e do Desenvolvimento Regional para discutir o assunto. Martins disse que o setor quer mostrar para o governo federal que a situação dos preços de insumos representa um risco para a economia.
Na pauta da reunião, deverão entrar desde cotas de importação —como é o caso do aço— até a possibilidade de repactuação de contratos e um novo teto para imóveis do programa Casa Verde e Amarela, hoje em R$ 270 mil.
“As obras do Casa Verde e Amarela no faixa 1 chegaram a ficar paradas por falta de repasses, foram retomadas, mas estão com 10%, 20% de obras executadas. Se não houver uma solução, [o cumprimento dos contratos] vai acabar sendo judicializado, porque o empresário não vai ter como entregar a obra”, afirma Martins.
Na avaliação do diretor da consultoria Brain, Fábio Tadeu Araújo, os incorporadores deverão segurar os lançamentos por até dois meses, na expectativa de que haja uma reacomodação de preços. “Hoje ele não sabe o quanto precisa aumentar na composição de custos, pois não há previsibilidade. Ele não sabe se 10% vai cobrir ou não. O risco é muito alto”, diz.
Segundo Araújo, a dinamicidade do mercado na capital leva os empresários a correrem mais riscos, pois o adiamento de um lançamento pode resultar em um prejuízo maior. “Se eu não lanço, meu concorrente lança e eu perco a oportunidade”. Em outras capitais e estados, porém, o risco é fechar no vermelho.
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